terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Vila de Baião - estrutura urbana, família e comércio

A formação e o amadurecimento de qualquer tecido urbano, é o produto de um processo longo, demorado, anacrónico, complexo que se insere numa lógica de produção cultural. As vilas sempre foram, no que se refere ao seu traçado e desenho urbano, uma pequena e simples estrutura urbana, de imagem simples, com uma pequena centralidade urbana, desenhada por uma pequena praça onde se situavam localizados os edifícios mais importantes da vida política, administrativa e social das suas gentes. Era o centro político e económico por excelência, o local de trocas e de negócios, de vida publica e cultural. Neste eixo de chegada e de partida, encontrava-mos o Tribunal, o edifico da Câmara Municipal, a Igreja, as tascas e cafés, os restaurantes e as pensões, a escola, os correios, as lojas de comércio, e as casas de habitação. Casas de sobrado com um ou dois pisos, de granito da região, telhado de duas ou quatro águas, alpendres, escadarias, varandas ou balcões. No rés-do-chão instalavam-se os negócios da família, em cima, nos outros pisos, vivia a prole em comunhão alargada, e em directo contacto com a vida comercial de avós, pais e tios ou tias. Toda a familia participava nesta comunhão quase sagrada de trabalho e casa, os mais pequenos não fugiam a esta regra, depois da escola, pousavam a sacola e lá iam dar uma ajudinha aos seus parentes nas mais diversas tarefas. Ambiente doméstico e ambiente comercial sobrepunham-se e interagiam dentro do mesmo espaço fisico.


O comércio tinha uma tonalidade antropológica muito familiar, as casas tinham os nomes dos seus fundadores, tais como "Guedes", "Borges", "Pintos", "Ribeiros", "Queirós","Pereiras", entre tantos outros. Vivia-se numa comunidade de parentes, com vínculos fortes, onde predomina a presença de uma matriarca ou um patriarca, que é sem duvida o vértice de toda a prole. As decisões, as tomadas de posição são-no sempre em função da família e do grupo doméstico alargado. A família enquanto grupo doméstico influente na vida económica, social e política local, toma as suas decisões em conjunto ouvindo sempre a voz dos mais velhos, e acima de tudo dos seus patriarcas.


É destas linhagens comerciais, que vão sair os futuros homens bons desta Vila e desta Terra. Alguns vão mesmo estudar para a universidade, tiram licenciaturas em medicina, direito, ensino, engenharia, arquitectura, e regressam à sua terra, onde vão desempenhar funções de relevo quer na vida publica quer na vida profissional. Assisti-se a uma reclassificação social e cultural destas famílias, com a entrada de novos capitais simbólicos, culturais, técnicos e científicos; tendo como base a formação universitárias dos seus descendentes, homens e mulheres. Aparece o titulo de Srº Doutor no contexto da família, do grupo doméstico, da pequena sociedade local.


As vilas ganham uma nova dinâmica social, económica e cultural, pois, assiste-se a uma reclassificação e a uma mobilidade social nestes contextos locais fortemente hierarquizados em função das Casas Grandes e Senhoriais da Vila e Terra de Baião. Os títulos de Senhor e Dom começam a perder sentido e valor e são definitivamente substituídos pelos títulos académicos de Doutor.


Não nos podemos esquecer, que desde muito cedo, que as antigas linhagens também mandavam os seus filhos para as universidades de Coimbra, Lisboa e mais tarde para o Porto. Mas, primeiro mandavam os seus filhos para o Porto, de realçar o Colégio Almeida Garrett na cidade do Porto, para onde foram estudar muitos dos filhos das velhas famílias senhoriais de Baião. Outras casas senhoriais optavam por requisitar professores particulares que vinham viver para as Casas Grandes de Baião e aí ensinavam as primeiras letras e estudos às pequenas crianças. Era um mundo à parte, segmentado pela ideologia, pela linhagem, pelo poder material.

Espaço doméstico que dava forma e estrutura a toda a sociedade baionense, a partir da qual se configuravam todos os padrões de vida. Convivia-se num espaço reduzido, tão reduzido como o da vida doméstica, aqui todos tinham uma identidade bem definida, pelo nome da família, e respetivos  capitais simbólicos e materiais a ela associados. As hierarquias eram organicamente estabelecidas, a partir do lugar, da casa, do nome de cada um. As identidades eram objectivas e positivas em consequência de estarmos na presença de um espaço segmentado e hierarquizado, com pouco ou muito pouca mobilidade social e cultural.

A vila de Baião está agora integrado num processo novo e radical, o da relação entre uma contextualidade e uma globalização, já não estamos na velha dicotomia que opunha Comunidade rural e Estado. Agora, estamos no mundo do fragmento, da deslocalização, da perda, da resistência, da assimilação. O local já não obedece às conotações puramente espaciais.

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