segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cyber Cities - processo de desurbanização da cidade

O espaço urbano da cidade actual ultrapassa os limites próprios de um lugar concreto, histórico, físico, para estabelecer relações de ambiguidade e de subjectividade social na relação entre as novas escalas de habitar o espaço pós-contemporâneo.
Estas novas relações configuram-se em função da nova relação entre o local e o global. Ainda, numa leitura mais ou menos clássica, Teresa del Valle, caracteriza-nos a cidade ainda como um lugar habitado por uma variedade de gente, com interesses e aspirações distintas, onde é ainda, possível, existir um lugar para habitar, viver e morrer. A cidade para esta antropóloga é principalmente o lugar do quotidiano onde se vive o dia a dia em relação ao trabalho, ao ócio, há violência, ao sexo, às relações sociais, e ao amor (del Valle, 1997:15 e ss.).  
Mas, com a descoberta e a manipulação dos modernos mass media, as sociedades ocidentalizadas foram empurradas para uma espécie de ditadura hedonista da imagem, da manipulação excessiva da informação, do videoclip, do jogo virtual, que não é mais do que uma prótese perversa do lúdico e da interacção social, próprias de uma sociedade que vive entre o tédio individual e o descentramento coléctivo.
A cidade transformou-se gradualmente na europa, e rapidamente no continente americano e asiático em metamorfose da esfera pública neste capitalismo globalizado.
Os espaços públicos integram-se em contextos e compromissos de acordo com a homogeneização capitalista desde as fases tayloristas e fordistas até à nova ordem soft deste capitalismo global.
A participação das classes sociais, sim classes sociais, cedeu o lugar a uma espécie de teleparticipação, própria de um espectador passivo, virtual, prisioneiro do conforto e ao serviço de uma sociedade virtual deslocalizada das suas funções sociais. Como diria Virilio, unidade de lugar sem unidade de tempo, isto é, a cidade desaparece na heterogeneidade do regime da temporalidade das tecnologias avançadas (Virilio, 1993).
Para este autor, a cidade estaria desta forma a sofrer um processo de desurbanização progressiva, o que nos levaria a falar de pós-arquitectura, pós-urbanismo ou de uma pós-urbanidade para designar esta fase de perda de unidade espaçio-temporal, isto é, em nome de um tempo-espaço sintético e virtual.
Noutra dimensão, David Harvey e alguns teóricos regulacionistas, consideram que estamos a viver uma compressão do espaço-tempo, resultante  de uma nova fase do capitalismo, de aceleração do tempo das trocas comerciais, daí a sua instantaneidade e descartabilidade, ou seja, o carácter efémero da cidade flexível e fragmentária. 
Aliás, a este carácter volátil e soft da cidade actual, corresponderia uma economia pós-fordista de acumulação também flexível, a do capitalismo desorganizado e globalizado. Não é por acaso, que Teyssot proclama que a imagem da cidade aparece-nos como uma metrópole posta em representação, uma espécie de mise en scéne de racionalidades proliferantes, arquétipo da desterritorialização, da dessimbolização, da errância e do delírio esquizoide.  
O caos transforma-se num conceito chave onde os objectos aleatórios da paisagem prenunciam a cidade electrónica, onde a circulação de imagens com a leveza da forma-mercadoria, abandonam de vez qualquer ligação com o mundo concreto da produção. Estamos, perante a proliferação de signos auto-referentes, o tão decantado mundo do simulacro.
Assistimos, a uma mudança para muitos radical na experiência do espaço público e doméstico. Onde a velocidade dos meios de locomoção e os recursos electrónicos alteraram de vez os modos de percepção espacio-temporal, e produziram transformações no limite da própria inserção do individuo na realidade da vida pública e doméstica.
O espaço urbano, entendido como lugar de memória e de tempo, carregado de sentidos simbólicos, isto é, como algo capaz de propiciar o reencontro com acontecimentos coléctivos  memoriais, e per si, causa próxima de modo a reactivar uma sociabilidade perdida, dilui-se ao longo destes dois séculos de excessiva racionalidade e modernização, dando origem às cidades temáticas e zonificadas, monofuncionais e hiper-especializadas.
No interior deste movimento urbano, próprio de uma sociedade pós-contemporâneo, assiste-se também    à valorização de um urbanismo de miniatura, anárquico, próprio da cidade caótica, plural e fragmentária.  

Sem comentários:

Enviar um comentário