terça-feira, 19 de abril de 2016

Freguesia de Campanhã: faltam políticas de regeneração urbana e de coesão social

Image result for campanhãA Freguesia de Campanhã é uma espécie de aldeia periférica à cidade do Porto. Um território cortado a meio por uma rede de infraestruturas rodoviárias, que não facilita a relação entre a cidade de cá e a cidade de lá, a cidade ocidental e a cidade oriental. Um território que na sua condição de periferia, albergou tudo aquilo que a cidade canónica expulsou e desprezou.

Primeiro foram as infraestruturas pesadas: rodovias, ferrovia e fábricas; mais tarde: a segregação social e cultural, com a construção dos blocos municipais para albergar as populações que foram expulsas da cidade. A história desta freguesia é bem o símbolo da bipolaridade urbana, da cidade dual e deslocada.
Campanhã é um espaço contentor: que vai albergando tipologias segregadoras, monofuncionais, deslocalizadas da malha urbana, plantadas por entre os bosques e campos das antigas quintas da cidade rural e bucólica.

Vamos reflectir sobre alguns dos registos que determinaram a paisagem e o ambiente urbano da Freguesia de Campanhã na  sua contemporaneidade:

Primeiro: a transformação da sua paisagem rural, bucólica e comunitária para zona de periferia urbana da cidade do Porto; com a instalação de um conjunto diversificado de infraestruturas macro-económicas; a expansão da rede de transportes públicos e municipais; a estação de Campanhã e a ligação da linha de Comboio de Ferro das Devezas ao Porto de Campanhã e S. Bento; a instalação do Matadouro Municipal e um conjunto de Armazéns  e Industrias; 

Segundo: com o Planos de Melhoramentos para a Cidade do Porto (1956-66), com uma nova política de urbanização das zonas de expansão: com a construção de um conjunto diversificados de blocos sociais, com destaque para o Bairro do Cerco do Porto, com a construção de 803 habitações em 1961; o de S. Roque da Lameira, com 116 habitações; posteriormente, em 1962, com a ampliação dos Bairros de S. Roque da Lameira e do Outeiro.

Terceiro: do envelhecimento à ruína de Campanhã. Entre a resistência e a capacidade de se adaptar aos novos tempos, Campanhã caiu num isolamento físico, social e cultural, materializado nas barreiras rodoviárias que a atravessam e lhe imprimem esse carácter negativo de muro que separa a cidade dos ricos da cidade dos pobres. Na falta de infraestruturas urbanas, como saneamento, transportes, equipamentos públicos, trabalho, lazer e espaços verdes qualificados. Mas, a situação mais grave e complexa, localiza-se na guetização habitacional com o acantonamento dos deslocados das ilhas, casas de colmeia, dos sobrados do centro da cidade.

Quarto: Porto Oriental/Cidade Ecológica, um vasto programa que na década de 90 do século XX, propunha fazer de Campanhã uma espécie de réplica de pequena Expo do Norte, personificada na liderança ambiciosa do Presidente da altura, Dr.º Fernando Gomes. Um programa político apresentado com toda a pompa e circunstância, mas que foi um absoluto falhanço político. A Câmara na altura criou um conjunto de expectativas que não conseguiu concretizar. Fernando Gomes abandona o Programa de Campanhã por uma carreira política em Lisboa.  

Quinto: com o mandato do Dr.º Rui Rio, o Porto Cidade Ecológica é definitivamente enterrado e renasce uma espécie de Parque Natural em Campanhã, para frustração dos seus moradores que ansiavam por um programa que qualifica-se social, economicamente e urbanisticamente a freguesia oriental do Porto. Dá finalização ao Plano de Pormenor Praça das Flores e Praça da Corujeira, com a construção de uma ponte que ligasse as duas placas da freguesia, divididas pela rodovia e ferrovia.

Sexto e último: aparece com a candidatura de Rui Moreira, a vontade de implementar em Campanhã um programa de desenvolvimento económico capaz de devolver a esta freguesia a vitalidade social e o emprego tão necessário a uma população que ronda os 57 mil habitantes, com uma das maiores taxas de desemprego e de vulnerabilidade social de toda a área metropolitana do Porto. Aparece a ideia de instalar no antigo matadouro um Centro de Incubação Empresarial, com novas infraestruturas, de forma a criar emprego a toda uma vasta população. Mais, tarde, os ânimos esfriaram e ficou-se por um Centro Cultural de Artes e de Museografia. Mais, uma vez, a população de Campanhã vê traídas e frustradas as suas aspirações com o adiar da criação de trabalho e de empresas para a zona Oriental da cidade do Porto.

E agora, Rui? E agora, Manuel?







sábado, 16 de abril de 2016

PORTO BEFORE PORTO: a cidade da representação versus a cidade da exclusão




O Porto é hoje uma cidade assediada por um capitalismo financeiro internacional que descobriu no território uma fonte de enriquecimento rápido, e que deseja converter a Capital do Norte, a cidade do trabalho, do comércio local e das pessoas, num antro de consumo com uma sociedade humana lá dentro.

A Cidade é assim objecto de requalificação ao serviço dos interesses das grandes corporações internacionais, associando capitalismo liberal a voluntarismo político local e regional.

A Cidade do Porto é assim uma espécie de caricatura e paródia de vida urbana, transformando-se numa máquina de exclusão, expulsando os seus moradores para os bairros municipais periféricos e desumanos, bem como destruindo o sector secundário do pequeno comércio e pequenas oficinas de rua.


Assiste-se, ao desmoronar de toda uma economia de rua com consequências profundas na qualidade e vitalidade económica, cultural e social endógena da cidade do Porto. O desmantelamento de ateliers e pequenas oficinas, carpintaria e mercenária, de arte e de animação, de produção artística e cultural. Porque, não conseguem suportar as novas rendas, próprias de um mercado fortemente especulativo e irracional.

No fim de semana passado, assisti de forma incrédula ao desmantelamento de uma oficina na rua Alexandre Herculano, com a venda de instrumentos de carpintaria, de mesas de montagem, de pinturas, telas, candeeiros, microondas, frigorífico, salamandra, sofás, cadeiras de estirador, andaimes, focos de luz, toda uma vida dedicada à produção artística que se evaporou em segundos. Uma comunidade de produtores, de gente bonita e inteligente, que servia a cidade, contribuindo para enaltecer a sua singularidade e diferença em relação à tantas outras cidades

O Porto: uma cidade de artistas, de arquitectos, de cineastas, de mestres de obras.

Os preços por metro quadrado na cidade compacta sobem para valores incomportáveis por aqueles que trabalham, vivem e têm que pagar rendas pelas oficinas e comércio que dão à cidade do Porto esse sentido cosmopolita de urb.


Esta situação agrava-se ainda mais, porque perante a exclusão de uns, também impossibilita que os jovens possam voltar à cidade compacta e qualificada.


As políticas camarárias não podem ignorar esta situação, nem podem fazer de conta de que nada disto esta a acontecer por políticas municipais que promovem a concentração da população em bairros subúrbio, como Lagarteiro, Contumil, Cerco, etc. Urgente um debate público sobre a actual realidade, porque ainda é possível mudar de programa e de políticas.


E se for caso disso, de políticos!