segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Cidade Vazia. Privatização da cidade e urbanismo diferenciador


                                                                           



     






 "o vazio é a carência de objectos, é um vazio que representa a forma de encontro com o ser, com a identidade..."
 (Teresa del Valle,1999)




         A diferenciação espacial é infelizmente uma realidade progressista e avassaladora que juntamente com os seus pólos assimétricos e opostos, muito têm contribuído para um aumento da territorialização social da cidade e área metropolitana, provocando situações de tensão e e de conflito entre aqueles que vivem e habitam a cidade e nas cidades emergentes da região norte. As políticas urbanas contribuem também para este aumento de territorialização social da cidade das áreas urbanas periféricas ao Porto, provocando situações de tensão e de conflito entre aqueles que vivem e habitam a cidade. As políticas urbanas contribuem também para este aumento de territorialização social da cidade, a partir de um urbanismo que assenta na programação e valorização da privatização e deslocalização do espaço urbano. Este fenómeno adquiriu formas ostensivas de exclusão urbana e social.
De um lado, temos o aparecimento de alguns guetos, enclaves sem qualquer infra-estruturação e sem qualquer mais valia social, uma espécie de redutos sociais sem alma nem cor, são uma terra de ninguém, um lugar sem limites nem fronteiras físicas, a não ser a imposição das fronteiras da exclusão social e urbana.
Este tipo de espaços de habitar, proliferam de forma anónima por toda a cidade, são uma espécie de ilhéus perdidos neste grande oceano que é o Grande Porto. No fundo são também um pedaço de cidade sem direito à história, sem direito a uma memória e sem nenhuma identidade.
Aqui não existem políticas municipais nem regionais que valorizem a cidade relacional em função de uma convivialidade estruturante e estruturadora do indivíduo no contexto de um ambiente urbano que se quer inclusivo.
A cidade organiza-se e estrutura-se em função de estratégias de promoção e de promessas de segurança / securitização, associadas a formas de socialização balizadas e organizadas num ambiente sociológicamente controlado. A cidade transforma-se, numa máquina ao serviço da exclusão urbana e social, abandonando a sua premissa fundadora de espaço inclusivo e modernizante. Favorecendo, assim, o aparecimento de identidades negativas ao serviço de uma lógica especulativa, de mercado globalizado dos terrenos da cidade.
Estamos perante um urbanismo introvertido, que facilita as interacções à distância, que promove de forma exponencial a comunitarização e a privatização da vida urbana, com a proliferação de condomínios fechados, associado ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação, à evolução das lógicas residenciais, à multiplicação de complexos que concentram um quadro vertical de funções urbanas. Por exemplo, temos o aparecimento de centros comerciais, parques temáticos, as cidades temáticas, os MacDonalds, os Shoppings, a patrimonialização dos antigos cascos das cidades.
A cidade vazia no fundo dá-nos a conhecer a crise da cidade, que também é a crise  do cinema, do teatro, do comércio de rua, do envelhecimento das pessoas e dos seus cascos urbanos e respectivo edificado.
Encontramo-nos, perante, o abandono da cidade, o despovoamento da cidade e de uma grande parte da vida social dela, mas também assistimos a uma recuperação de uma certa vida urbana, mais nocturna e boémia, mais cosmopolita e global, com o aparecimento de novos cafés, bares, restaurantes e espaços de cultura, arte e musica. A cidade vazia patrocinou um ecologismo de programação cultural urbana nos antigos edifícios e centros comerciais, com a sua reutilização para outras actividades e performances urbanas. Numa lógica de sustentabilidade económica de escassos recursos, com o aparecimento de grupos de contra-cultura, em centros comerciais como o do STOP e do DALLAS. Paralelamente, os espaços mais emblemáticos da cidade de outrora, como o Café Majestic, o Guarani, o Piolho, ganham nova vitalidade e ocupam um espaço mais de representação e de ritualização cultural da cidade portuense.
Multidões de jovens (estudantes acima de tudo), deslocam-se para a baixa da cidade, à procura de espaços alternativos à cidade periférica do centro histórico e das instituições canónicas da invicta (como por exemplo, O Teatro de S. João; a Casa da Musica; o Museu de Serralves; etc.).
Mas a cidade é cada vez menos um espaço público complexo e heterogéneo, que valorize as comunidades de pertença, as políticas urbanas integradoras de uma sociedade inter-classicista, mais plural e onde a coesão social sejam a causa primeira do fazer cidade.
Mas assistimos, ainda a uma grande erosão do espaço urbano, consequência de um urbanismo especulativo, desorganizado e fragmentado que renunciou à grande ambição da cidade para todos, protagonista de uma cidade cosmopolita e solidária.  

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