terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cidade de Amarante. Patrimonialização, concentração e dispersão

A cidade de Amarante apresenta em termos de imagem urbana três realidades mais ou menos diferenciadoras em termos de tipologia, morfologia e rede urbana. Existe, uma realidade urbana que designamos por casco da cidade ou centro histórico de S. Gonçalo (Amarante). Um lugar fortemente marcado por edifícios de elevado sentido estético e religioso, consolidada por uma membrana que nos liga à memória do lugar, à fundação da própria cidade. Uma espécie de cidade velha, com ruínas, com memórias, com trajectos socioculturais singulares, contribuindo desta forma para a construção de uma identidade urbana específica. Podemos-lhe chamar de cidade patrimonial ou de cidade histórica; cidade-museu correndo o risco de a mumificar, reduzindo as suas funções e complexidades sociais a uma lógica turística, redutora e economicamente globalizante e dependente.

A segunda realidade urbana, organiza-se e estrutura-se em função de um centro que se expande radial-mente, subindo as cotas e desta forma penetrando nos arrabaldes do termo da cidade. Este fenómeno inicia-se com o plano municipal de reconstrução da cidade após as invasões francesas; consolida-se em pleno regime liberal e fecha o seu anel entre os anos 1945-1970 com a construção da nova Ponte de Amarante (com o novo Plano de Pormenor da autoria do Arquitecto Januário Godinho),com a construção do novo Hospital, do Bairro Cancela de Abreu, o Cine-Teatro de Amarante, o Novo Mercado (da autoria de Januário Godinho), o Novo Tribunal (da autoria de Januário Godinho), e um conjunto de novas artérias urbanas e a qualificação do espaço urbano da cidade, como por exemplo, arruamentos, jardins, passeios públicos, fontes, praças, iluminação e esgotos, etc.

Uma nova cidade que se organiza e se estrutura em função de um conjunto variado de obras públicas, definidas e projectadas pela vontade e engenho, de um número restrito de homens cultos, inteligentes e progressistas (destacamos as figuras de DR António Lago Cerqueira, Coronel Francisco Monteiro de Carvalho Lima, Drº Pedro Alvellos, Dr Joaquim Teixeira Macedo) que aproveitando os recursos locais e os programas das políticas do Estado Novo, lançam obras e concretizam-se sonhos.

A terceira realidade urbana é mais recente e prolonga-se até aos nossos dias. Estamos perante uma cidade difusa, fragmentada e dispersa, que se afasta do centro e da malha consolidada, projectando-se pelas colinas que envolvem o imponente vale do Tâmega. Uma cidade satélite, com uma imagem difusa e massificada, redutora na forma e hibrida na composição arquitectónica. Estamos no reino das arquitecturas descontextualizadas, sem lugar e sem integração; sem composição e sem escala; sem rede e sem malha urbana.

Uma espécie de não-lugares, que fazem o apelo ao desconcertante e ao especulativo, atrofiando a vida urbana e as relações de convivialiadade,entre vizinhos e familiares, dispersando pessoas, deslocalizando equipamentos e infra-estruturas, potenciando situações de erosão urbana e de perda de sentido ao direito à cidade.

Lugares que são fortemente especulativos e anti-urbanos, autênticos guetos de exclusão social, sem programa e planeamento que os justifique.

Neste ambiente de paradoxos desconcertantes, a cidade vai-se refazendo aqui e ali, com projectos de interesse público e de qualidade arquitectónica justificada, potenciando novas imagens e novas tipologias urbanas ( como por exemplo, a nova Biblioteca Municipal; a Casa da Musica; as Piscinas; o Museu Municipal). Valorizando a imagem urbana da cidade e a qualidade de vida em Amarante.

Fica-nos a sensação de que a realidade urbana amarantina não obedece a uma lógica de programação e de organização racionalmente estruturada e projectada, assente em planos e programas sustentaveis e participados, mas é o fruto do acaso, do interesse, do especulativo e da auto-construção.

Torna-se urgente dotar a cidade de planos e programas que pensem a cidade de uma forma racional e integrada.

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