sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Suplemento Cidades in Jornal Público. Reportagem sobre as Ilhas na Cidade do Porto (Colaboração de Fernando Matos Rodrigues)











Esta Reportagem do Público no Suplemento Cidades sobre as "Ilhas" da Cidade do Porto. Uma espécie de casinhas populares encaixadas umas nas outras, autênticos favos de mel, onde vivem uma grande parte da população de pequenos recursos da região do Norte de Portugal. Gente que chegou à cidade à uma, duas ou três gerações atrás, oriundos do Douro (Baião, Cinfães, Resende, Lamego, Mesão Frio, Régua, Pinhão, etc.) onde assentaram a sua família e recomeçaram as suas vidas novas. Pessoas de traço simples, quase ingénuo, com diversas fragilidades, que foram construindo identidades e redes de socialização e acabaram por adquirir o estatuto de cidadãos do Porto. Uma espécie de tripeiros novos, com muito orgulho na cidade e nas suas festividades religiosas ou profanas.De destacar a forma como celebram a Festa do S. João nas suas ilhas, de forma informal e espontânea. 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Da Natureza da Cidade: paisagem, ambiente e sustentabilidade


Este texto parte da velha dicotomia que opunha e de certa forma complementava duas realidades o campo e a cidade. Benevolo considera a cidade como o conjunto de objectos artificiais introduzidos pelo homem numa parte do ambiente natural, modificando as relações entre o homem e o espaço circundante         (1987).Desde as origens da humanidade, que a primeira necessidade do homem foi sem duvida o habitar em comunidade, e desta feita, convertendo-se assim em animal gregário. Ao agrupar-se em cidades, (de civitas ), o homem fez-se civilizado, através de um processo civilizacional lento e complexo, a partir do qual adquiriu a sua condição de cidadão, submetendo-se a normas de comportamento e a leis que estruturam e modelam o viver em comunidade alargada, que denominamos de sociedade.
A cidade é essencialmente um produto cultural e civilizacional complexo, elaborado ao longo de um processo civilizacional que teve o seu inicio no Neolítico com a sedentarizaçao e a revolução agrícola e técnica (Goody,1977)..
Neste momento, a cidade talcomo a entendemos a través do seu conceito histórico, parece estar a atravessar uma das mais profundas crisis, de desurbanização e de fragmentação social e cultural. São vários e diferenciados os fenómenos que nos confirmam este mal estar da cidade actual. Aqui e agora, vamos apresentar somente aqueles que se nos apresentam como os mais importantes e complexos, como por exemplo:
    1.º - o crescimento desmesurado das grandes metrópoles, que progressivamente perderam as qualidades de forma e se estendem de forma incontrolável pelo território, "crescendo" sem ordem nem lei, ocupando de forma irracional o espaço rural e respectivo território;
    2.º  - a vertiginosa transformação da cidade histórica, ameaçada pela construção de super estruturas de engenharia, auto-estradas, pistas de circulação, mega construções e a respectiva pressão dos automóveis;
     3.º -  a aparência desoladora ou monstruosa das novas paisagens urbanas, configurando inóspitas cidades dormitórios, zonas industriais desoladoras, deslocadas e degradadas na sua duvidosa funcionalidade técnica e económica;
Corbusier (1995) apresentava como causa desta ruptura a velocidade, isto é, quando a velocidade surge, as grandes cidades explodem, o campo despovoa-se, as provincias vêem-se isoladas no coração da sua intimidade. Walter Gropius escrevia na década de cinquenta do século XX, que a nostalgia que os citadinos sentem ao olhar o campo e os camponeses ao olhar a cidade traduz uma aspiração profunda, que é cada vez maior.Os progressos tecnológicos transplantaram a civilização urbana para o campo e, reciprocamente, reintroduziram a natureza no coração da cidade. Desde à mais de uma geração que não nos cansamos de protestar contra o congestionamento das cidades e de reclamar cidades mais espaçosas e mais verdes. Estas vozes têm por corolário o alargamento da rede viária e a implantação de um sistema de transportes adequado. A cidade do futuro empurrará as suas fronteiras para bastante mais longe do que hoje, fazendo desaparecer estes aglomerados anárquicos de funções incoerentes e a acumulação de edifícios, substituindo-os por muitas pequenas unidades.São estas unidades, melhor adaptadas à escala humana, que nós esperamos ver distribuídas em amplas redes, sobre regiões inteiras.Estas cidades dispersas e espaçosas - cidades verdes disseminadas num campo urbanizado - cumprirão uma missão histórica, desde há muito necessária: a reconciliação da cidade e do campo. Estas comunidades e regiões assim planificadas aliviarão a cidade antiga dos seus pesos mortos: os quarteirões descongestionados poderão enfim assegurar a verdadeira função de centro regional, orgânico, comercial e cultural.
Evidentemente, que Gropius vivia numa época de expansão e crescimento industrial e económico sem precedentes na América e na Europa e ainda estávamos muito longe da crise energética e dos combustiveis dos finais do século XX e inícios do século XXI. A baixa densidade ainda não se apresentava como um problema de sustentabilidade ecológica e económica dos espaços urbanos difusos e fragmentados das cidades globais.
Para dar resposta a estes problemas aparece um novo paradigma, o eco-urbanismo.
O eco-urbanismo pretende dar resposta a um conjunto de problemas que afectaram a cidade ao longo destes dois últimos séculos. Primeiro a necessidade de se criar um assentamento humano sustentável; segundo encontrar um novo paradigma de sustentabilidade; terceiro da necessidade de valorizar e potenciar os recursos locais / endógenos; quarto, solucionar o acelerado processo de crescimento e por último a ideia de que a civilização urbana contemporânea não é sustentável.
Para além, de que mais ou menos 50% da população humana vive em zonas urbanas, sem esquecer que no inicio do século XX viviam apenas 10%, e nas previsões para o ano de 2025 a população urbana pode chegar aos 75%. Sem esquecer que a população em 2025 (não é a população urbana) do mundo em vias de desenvolvimento terá aumentado 2.000 milhões de pessoas, e metade das quais não terá disponíveis os serviços básicos como água corrente, electricidade ou infra-estruturas e acessibilidades. Como podem imaginar, esta situação pode dar origem a: i) zonas urbanas muito conflituosas; ii) a zonas urbanas insalubres e inabitáveis; iii) zonas urbanas habitadas por massas anti-sociais de individuos desesperados e alienados; iv)  forte pressão sobre o meio ambiente; v) as cidades são as principais causas da destruição ecológica-global.
Desde dos tempos classicos que a relação entre o Natural e o Construído foi sempre uma constante. Na tratadística clássica, já Vitrubio considerava muito importante a relação entre o natural e o artificial, como elementos fundamentais no ordenamento, na orientaçao e na iluminação natural dos edificios. O planeamento devia ser centrado no homem, onde a Natureza aparece-se como um recurso para satisfazer as necessidades humanas. Mais tarde, a idade média vai sacralizar a natureza, enquanto topos sagrado, uma espécie de mistério (Sennet,1997). Homens como S. Bento de Nursia, S: Bernardo de Claraval e mais tarde S. Francisco de Assis, aparecem-nos como artífices de uma estética religiosa da Natureza e da Comunidade. Em S. Bento vamos encontrar a fuga e o desprezo pelo mundo.Um mundo personificado na cidade que aprisionava e corrompia os homens. Por exemplo, no versículo do Salmo dadívico podemos ler «Vi a maldade e a contradição na cidade; e eis fugi para longe e fixei-me na solidão» (Salmo 54,8).
Desde a modernidade até ao mundo contemporâneo, que o homem e a humanidade se afastam desta visão apocalíptica do mundo e da cidade e personificam as novas utopias pós-industriais.Que também trazem associadas algumas das situações mais complexas quer do ponto de vista social e urbano que o mundo moderno vai viver. A primeira esta relacionada com o aparecimento da cidade industrial e todas as consequências sócio-ambientais daí derivadas. As condições de extrema pobreza e de insalubridade provocam uma Tendência Verde.
São os exemplos da Cidade Jardim de Ebenezer Howard e o Plano de Ordenamento para a Cidade de Barcelona de Ildefonso Cerdá.
Outro marco importante na chamada arqueologia do eco-urbanismo é o pensamento higienista que lança as sementes de um novo conceito - conservação da natureza, expresso no movimento da Beautiful City, ou nas propostas das New Town`s For America de Stein.
Este tipo de planeamento considerava a Natureza como um bem susceptível de apropriação por parte do homem e passa também a ser protegida e utilizada pelos seus efeitos benéficos para a saúde física e mental do ser humano (Mumford,1961).
O movimento moderno apesar da sua radical defesa do papel social da arquitectura e do urbanismo, desvalorizou a Natureza, remetendo-a para um plano secundário, considerava-se inclusive que  a natureza era um simples adorno da cidade.
Mas, desde os finais da Segunda Guerra Mundial até às décadas de 60/70 do século XX, que assistimos a um role de progressos e de inovações técnicas que provocam um novo modo de pensar a arquitectura e o urbanismo.
Aparecem as energias alternativas e renovaveis, solar, eólica e térmica.
Começa a nascer uma forte corrente de retorno à natureza com o Movimento Hippy e o Maio 68.
A ecologia converte-se num termo muito difundido nos mass media.
Desperta a consciência social sobre a fragilidade do planeta Terra.
Mas é sobretudo com os anos 90, mais propriamente em Junho de 1992, no Rio de Janeiro na 1ª Cimeira Mundial do Meio Ambiente que os lideres dos 172 países presentes, sob a tutela das Nações Unidas, que se apresenta um novo conceito - de sustentabilidade. A 3ª Via da Consciência Ambiental com a Agenda Local 21.
A sustentabilidade da cidade passa pelo desenho, desenvolvimento e gestão de comunidades humanas sustentáveis. Mas nem tudo foi sério e profundo nesta nova visão da cidade e do planeamento urbano. O panorama recente do desenho e planeamento urbano deu lugar a muitos "projectos verdes", puramente cosméticos e de duvidosa sustentabilidade ao serviço de um urbanismo especulativo e desregulado.
As cidades como ecossistemas artificiais, contsruidos em primeira intancia para satisfazer as necessidades humanas, mas também com capacidade para proporcionar um biotopo a outras espécies devem evitar impactes negativos sobre o meio natural.
Devem ser governadas em função de um úso racional das fontes de energia renovaveis, da reciclagem dos resíduos sólidos e liquidos urbanos, o recurso a fontes alternativas de energia, a criação de micro-climas, a convergencia de tecnologias nos campos da informática (telecomunicações e comunicação). Esta convergencia permite uma utilização mais lógica do tempo e do espaço ao evitar viagens desnecessárias com os consequentes gastos de combustivel fossil e de tempo.
O Eco-urbanismo é uma nova disciplina que articula as multiplas e complexas variaveis que intervem numa aproximação sistémica ao desenho urbano, que supera a compartimentação clássica do urbanismo convencional.Vai muito mais além do que certas linhas de pensamento  do desenho recente, na sua maioria formal e fundamentalmente estelístico, proporcionando desta forma uma visão integrada e totalizadora do urbanismo. Evitando, desta forma um urbanismo retrospectivo, museográfico e mimético, preocupado essencialmente com a decoração, decoração no sentido de um ornato da superficial aparência caracteristica de um país, duma cidade, duma aldeia. Aparência não de época mas de representação de uma ideologia do espectáculo ao serviço do efémero e do consumo (Le Corbusier, 1995).
Deste modo, os arquitectos, os antropólogos, os geógrafos, e todos aqueles que têm responsabilidades na politica territorial devem ser capazes de analisar e de compreender o profundo impacto que os temas ambientais e as inovações tecnológicas têm sobre as nossas cidades, o nosso modo de vida, as nossas casas, os nossos lugares de trabalho e  de lazer.
O desenho e o planeamento urbano devem incluir como componentes estruturais as novas tecnologias da informação e das telecomunicações, assim como também as preocupações ecológicas, inseridas numa estratégia global de sustentabilidade.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Poética do Habitar - as "Ilhas" no Vale de Campanhã (Porto)

















Espaço e ambiente

O rio Tinto e o rio Torto são dois pequenos afluentes da  margem direita do rio Douro e, cuja dinâmica está extremamente dependente da que se verifica neste último. A morfologia actual da área é nitidamente comandada pela tectónica, já que esta área encontra-se nitidamente desnivelada relativamente a toda a plataforma oriental, onde praticamente se circunscreve toda a restante cidade do Porto. Facto relacionado com uma importante falha de direcção NNW-SSE, que por sua vez define a escarpa de Campanhã e condiciona o rio Douro a montante da confluência do rio Tinto e Torto.
A influência da tectónica é ainda nítida nalguns pequenos afluentes destes dois rios definindo pequenos vales de fractura.Assim, como condicionando pequenos troços dos percursos destes dois cursos de água que drenam toda a área do chamado Parque Oriental da Cidade do Porto. A natureza tectónica e litológica explica os fundos de vale aplanados que se encontram na parte final do percurso dos rios Tinto e Torto, constituído por terrenos aluvionares, onde se desenvolvem solos profundos e férteis (Pedrosa,1995).
Ambas as bacias hidrográficas drenam uma pequena área e apresentam uma forma extremamente alongada. A ocupação do solo nesta área pode individualizar-se em três conjuntos: o primeiro (iº) em área construída; o segundo (iiº) em área agrícola; e o terceiro e último (iiiº) em área florestal.
A área construída corresponde a antigas quintas rurais, a pequenas povoações, a caminhos e ruas, becos e travessas, calçadas e muros, silos e azenhas, moinhos.
A área agrícola pode-se distinguir em agricultura de fundo de vale e de agricultura de socalcos. A agricultura praticada nestas áreas é temporária com especial realce para os produtos hortícolas, facto que se deve à sua inserção numa área urbana. No que se refere à área florestal é interessante notar que a diversidade é bastante elevada, pois, coexistem espécies tipicamente mediterrâneas, com algumas que demonstram a influência do clima mediterrâneo.
O espaço construído esta em plena sintonia com a realidade morfológica do seu território, configurado e estruturado pelas duas bacias hidrográficas que acabamos de caracterizar em termos de complexidade ambiental e ecológica.

Antropologia do habitar

Estamos num espaço onde as novas formas do habitar, contribuíram para o aparecimento de algumas rupturas com a matriz originalmente rural. Aparecem um conjunto considerável de habitações diferenciadas, clandestinas e ilegais umas e outras integradas em programas nacionais de habitação social. As casas unifamiliares, são na sua maioria propriedade dos seus ocupantes, produto de uma auto-construção total ou parcial, de fraca qualidade arquitectonica, sem acabamentos e sem infra-estruturas, isto é, estamos perante a inexistência de água ao domícilio, sem saneamento, sem transportes públicos, sem acessibilidades. Estamos perante uma terra de ninguém perdida no espaço difuso do peri-urbano portuense. Um fenómeno urbano de profunda transformação do território à escala local e regional com a urbanização e construção das manchas periféricas às cidades consolidadas. É a conversão das terras agrícolas e a passagem acelerada do rural ao urbano difuso e desta forma também ele insustentável quer do ponto de vista ecológico e social. No fundo é a  civilização e a cultura urbana que estão em causa (Harvey, 1992; Rodriguez Gonzalez, 1999).
Existe, uma articulação entre modos de habitar e modos de viver, e consequentemente uma inter-relação com  o espaço periférico onde se contextualizam estas narrativas urbanas de sofrimento e de dor, vitimas da exclusão e da pobreza urbana (Rodrigues, 2000).
Neste território urbano caótico com uma quase total ausência de infra-estruturação e onde o desleixo urbano são a regra, vamos encontrando ali e acolá, situações de profunda dramaticidade social e ambiental. São corredores feitos de madeira, de tijolo e pedra, escuros e frios, sem alma nem coração, com mais de 30 metros de tubo negro, apinhados de gentes, de crianças, de velhos, de doentes e desempregados, sem água de rede pública, sem saneamento, sem segurança, sem contexto e identidade. Chamam-lhes "Ilhas" em Portugal, no Brasil são conhecidos por "Cortiços" e em Espanha por "Currales".
Na rua de Bonjoia, n.º528, encontramos uma "Ilha" onde moram 35 pessoas. Cada tipologia que integra este corredor social é composto por um quarto, uma cozinha minuscula, uma retrete colectiva ao fundo deste estreito corredor. O espaço comum é uma tira comprida de tubo preto e frio que serve de lugar de encontro, de lugar de conflito e de tensão entre vizinhos e familias que aí residem. Cada residente pinta a sua pequena fachada (entre 1 a 2 metros de frente), geralmente com cores vivas, fortes, que gritam dentro deste corredor, autênticas instalações artísticas feitas de pele e osso.Uma das mulheres dispara, perante a nossa presença no recinto «moro nesta ilha desde à 32 anos...agora já existem criancinhas cá dentro...aqui é tudo familia...o meu cunhado é irmão do meu marido...São umas casas muito pequeninas...esta aqui (vizinha) precisava de uma casinha maior, nem um quartinho tem para o filho que dorme na sala». Afirma, ainda Rosina (de nome Judite da Costa Rocha) o «bairro da Mitra foi um pesadelo que por aqui passou. Eles nunca nos fizeram mal, nunca nos roubaram, eram muitos educados, que  miséria aquela, dava dó». Neste discurso directo, ingénuo mas puro, esta mulher fala-nos também do amor à ilha e à rua. Uma espécie de topofilia sobre o pequeno mundo onde se vive, onde se nasceu, ou onde nasceram os seus. Independentemente das difíceis condições de habitabilidade e de salubridade destas tipologias populares e urbanas. 
Falou-nos também da deslocação de antigos residentes da rua de Bonjoia, e alguns deles seus familiares que foram forçados a ir viver para as Cooperativas de Habitação Social de Pego Negro. Da boca de Rosina sai um trago amargo sobre esta realidade social, uma espécie de protesto e de grito social, quando nos atira à cara «as pessoas que sairam foram bem tristes...elas foram aqui nascidas e criadas...a gente sabe no meio em que vive, mas depois nem sabe para onde vai». Neste pequeno relato esta bem patente a importância das relações sociais, dos vínculos de pertença a um grupo e comunidade, quer por sangue ou por afinidade, elementos estruturadores da boa convivência e de uma socialização inclusiva. Aliás, Rosina, noutro depoimento declara que «a minha mãe saiu daquipara as Cooperativas do Pego Negro, são casas muito frias, esta no terceiro andar, são umas casas muito altas». Estamos perante a angustia do viver num apartheid urbano, onde o  sentimento da exclusão social, por via de uma quase deportação silenciosa e politicamente injusta, por que é desumana e socialmente cruel.
Rosina também nos fala do amor que tem a sua casinha em detrimento da rua. Rosina não gosta da rua. A rua é um espaço triste, escuro de noite e feio de dia. Um sitio de conflitos, de bêbados e de putas à mistura com trafico de tudo. 
A sua casinha é uma espécie de casulo que tem varanda grande, cozinha é pequena, um quarto, um corredor e um jardim. Diz-nos sem papas na lingua, «Eu, sinceramente, camarários não». Recusa ir viver para os bairros massificados dos blocos de cimento do Pego Negro.