terça-feira, 16 de novembro de 2010

Conceptualização do Espaço e Ordenamento Artístico na Cidade do Porto

Segundo Peter Brook a coisa mais importante não é o espaço em sentido teórico, mas sim o espaço enquanto instrumento. Estamos perante uma problematização do espaço e da obra de arte,isto é, qual a relação existente entre espaço da obra e espaço na obra. Claro que o primeiro está sempre em função do segundo, mas também é normal que o espaço da obra desempenhe um papel muito importante em todo o processo da sua percepção e da sua interpretação. Sem esquecermos o carácter neutral e transparente  do espaço em si mesmo.
No espaço da obra todo o processo semântico é vitima da ilusão que esta produz, uma espécie de espaço representado nas obras, especialmente nas obras realistas. Aqui, o espaço que nos ensina não é o espaço da sua produção, mas sim, um espaço fictício, isto é, um espaço pré-existente. O criativo/artista fabrica um espaço, um espaço representado que nunca, em nenhum lugar à existido antes que o artista o tenha fabricado. Considera-se, que estamos perante um espaço como produção e não como reprodução ou simples imitação. A teoria da mimesis de que não há outro espaço para além daquele que é representado. Mas no entanto, estamos perante um espaço produzido que funciona dentro do mundo do mundo visual, isto é, apresenta-se como realidade em si.
A obra de arte utiliza na fabricação de uma realidade artística um número infinito de suportes e materiais, que  vão desde o cartão, a tela, acetatos, plásticos, lixo, etc. Esta atitude conceptual insere-se numa espécie de contracorrente, que faz a apologia da liberdade de expressão e de informação, utilizando novas tecnologias e técnicas próprias de uma contra-cultura. Aqui, a manipulação vai estabelecendo relações mais activas entre o produtor, espectador e o coleccionador.
Estamos, perante, a mercantilização de toda a obra de arte, onde criadores pretendem chegar a públicos mais abrangentes, utilizando assim, meios de produção e de difusão mais interactivos e comunicativos.
Onde produtores e destinatários, criadores visuais e profissionais, relacionados com a comunicação desenvolvem uma actividade mais consequente de forma a chegar a um público mais amplo, recusando a obra de arte, como fruição exclusivamente de um público "expert". Esta nova realidade, está também relacionada com a dita socialização do conhecimento e com uma maior promoção da arte no contexto da sociedade e da cultura massificada. Com a criação e divulgação de novos espaços de fruição cultural e artística, como por exemplo, o caso da Rua Miguel Bombarda na Cidade do Porto; bem como as iniciativas do Museu de Serralves, com party artísticas gratuitas, durante várias horas seguidas para a população da cidade e da região norte. Um acontecimento popular, mediático, massificado e interaccionista.
Onde se apresentam produtos alternativos que vão desde os grafites murais, land arte, musica, instalação, seminários, oficinas, bancas para a venda de produtos alternativos, cenas interactivas com teatro ao ar livre, e a possibilidade de o público poder interagir com os actores em contexto de espaço exterior. Abandonando-se, deste modo os canais mais elitistas, a partir dos quais é normal se desenvolverem os chamados ciclos de produção, circulação e consumo artístico.
Mas, qual é a relação entre estes espaços de divulgação, mais populares e públicos e os centros de experimentação artística. Estaremos, perante a morte destes espaços? Ou somente, perante a sua transformação e respectiva massificação?
Na Cidade do Porto, têm aparecido um conjunto de espaços culturais que para além de promover a criação artística, também colaboram na formação dos novos públicos. Ao longo, destes últimos anos, a Cooperativa Árvore, a antiga Escola de Belas Artes do Porto, a Escola Superior Artística do Porto, a Escola Soares dos Réis, e actualmente com a criação de novos museus e novos centro educativos, dos quais destacamos o Museu de Serralves e a Casa da Musica, contribuem para o fomento de novas experiências no ensino e na divulgação das artes visuais e musicais, e artes performativas e expressivas. 
A cidade já está afastada dos tempos em que a cultura e a arte se fabricavam em Agrupamentos de Vizinhos, de Associações de Moradores, ou espaços alternativos de vanguarda. Hoje, a cidade organiza a sua actividade artística e cultural em função de uma agenda mais complexa e socialmente mais abrangente.Promovendo-se exposições, editando-se obras escritas e ou de multimedia, de actores locais e globais. Promovendo projectos culturais próprios, mas articulando-os com campanhas educativas, muitas vezes inseridas em projectos de inclusão social, como por exemplo, a luta contra a exclusão ou da pobreza, sida, etc.
Estes projectos contribuem também para a mobilização social, configurando uma cultura emergente com novos públicos e novos produtores. Recuperando e reivindicando uma nova atitude artística e interventiva na cidade, na história da cidade e mobilizando-se para novas causas e novos horizontes sociais e estéticos. De realçar os movimentos alternativos da cidade, onde grupos de jovens talentos foram ocupando espaços abandonados pelo comercio em alguns centros comerciais e aí desenvolveram espaços de criação e de fabricação contracorrentes às instituições mais canónicas da cidade.


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