segunda-feira, 15 de novembro de 2010

The Tactile Eye

O Espaço não é um dado a priori, mas um produto construído. Neste sentido, também não é um elemento neutro, pois, ele encontra-se sempre associado a uma realidade social, política e simbólica. O espaço não se pode representar como um continente vazio. O espaço não é abstrato, faz-se abstrato, no sentido em que ele sendo também uma obra do homem, ele contém uma sintaxis, uma semãntica e uma pragmática. Como diria greimas espaço enquanto forma e extensão enquanto substância.
A sociedade actual vive nesta emergência estética e ideológica, onde a cidade e a arquitectura se transformam rapidamente numa coisificação desmaterializada de tempo e espaço.Uma espécie de dilema filosófico, que condena o homem pós-moderno a um retorno á caverna. Que se traduz na actualidade numa espécie de vida artificial e virtual.
 Estaremos perante a substituição da ideologia do plano, tipica do movimento moderno, por uma outra que se pode classificar de forma grosseira de ideologia da diversidade das identidades locais, em que os conflitos são escamoteados por uma espécie de estetização do heterógeneo, encoberto pela transformação da superficie desencantada ( segundo a ideia que Weber dava a esta dimensão chave do mundo) das nossas cidades em cenários comandados pela lógica da fascinação ao serviço do deslumbramento, irmanados por uma sociabilidade que há muito tempo deixou de existir em virtude justamente desse traço desertificante da modernização. O lugar urbano foi aos poucos convertendo-se no seu oposto, o não-lugar dos espaços virtuais de uma vida pública definitivamente transformada num reportório de representações simbólicas (Augé, 1994).
Robert Venturi, propunha uma arquitectura da comunicação e não uma arquitectura do espaço. Criticando desta forma a obsessão dos seus colegas pela adopção de soluções urbanísticas tradicionais, como as praças com os seus genius loci, defendendo por sua vez, a generalização do modelo das ruas comerciais cheias de anúncios luminosos, bem como a valorização de uma arquitectura impura, simbólica, de comunicação vigorosa e imediata que podesse recorrer a símbca´rolos e a sinalizações de fácil descodificação.
Ao contrário da arquitectura moderna expressiva pela forma, ele já assumia de modo muito explicito a transformação da arquitectura em arte de massas, como uma forma-mercadoria na sua dimensão apoteótica de forma-publicitária.
Todavia, é com a chamada 3ª Geração Moderna, na qual se destacam alguns arquitectos portugueses, da cidade do Porto, Fernando Távora, Siza Vieira, Eduardo Souto Moura e mais tarde com uma nova geração de arquitectos formados nas Escolas de Arquitectura da cidade do Porto (Escola Superior Artística do Porto e Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto) , como João Carreira, João Álvaro Rocha, Jorge Patricio Martins, Fátima Fernandes, Mendes Ribeiro, que se rejeitam os formalismos e os maneirismos do estilo internacional, excessivamente redutores na forma e na estrutura. Sem se caír em tentações de classificação ou tipificações redutoras de estilos, quase que poderíamos afirmar que existe aqui, uma nova forma de olhar para o tempo e para a história, para com a realidade e a cultura portuguesa. 
Neste contexto, Montaner (2001:152-3) considera que as formas contidas e minimalistas de grande parte da obra de Tadao Ando, Eduardo Souto Moura, Jacques Herzog/Pierre de Meuron, Francesco Venezia, Antonio Monestiroli ou de Paulo Mendes da Rocha, apresentam como valor máximo a sua materialidade e a sua extrema unidade, com a renuncia ao secundário para outorgar maior intensidade às ideias básicas à presença e textura das geometrias simples, numa arquitectura de gande qualidade, produzida somente em circunstancias muito especificas. Por outro lado, considera ainda este autor que as propostas urbanas de Rem    
Koolhaas ou  Toyo Ito também recorrem às transparências, superposição de imagens e densidade de referências que os meios de expressão mediáticos mais vanguardistas geraram.
Estamos perante uma nova versão da vida e do viver urbano, caracterizada por um retorno do individuo ao interior da vida doméstica, onde a televisão nos aparece como o único meio de contacto com o mundo exterior, acrescido evidentemente do automóvel e da net. Uma espécie de capsula sobre rodas ou bites, dirigida por um computador. De um lado, a casa e do outro, as strip das ruas de comércio às grandes auto-estradas, onde a velocidade se cruza com os seus out-doors, placas ou sinalética indicativa em geral de lugares e produtos de consumo.
Entre o micro-espaço da sala e o hiper-espaço das grandes auto-estradas a diferença seria apenas de escala, e de suporte, pois em ambos os casos não se trataria exactamente de lugares de estar, mas de lugares de circular. A aceleração do tempo na sociedade pós-contemporânea, levou David Harvey (1999:263) a considerar que vivemos num tempo e num espaço comprimidos, dominados pela alta tecnologia, que fabricou o triunfo do efeito sobre a causa, da instantaneidade sobre a profundidade do tempo; o triunfo da superfície e da pura objectivação sobre a profundidade do desejo.
A cidade ocidental apresenta-se também em função de dois pólos muito fortes, o da reprodução e o da produção. O primeiro tem como eixo simbólico o espaço doméstico, o segundo abarcaria todo o resto - onde é costume encontrarem-se os lugares de maior visibilidade, de reconhecimento e prestigio. Vincular a cidade com a arquitectura e com a arte em geral (pintura, escultura, arte da instalação) é preenche-la de formas, de cores, de texturas, que a enriquecem.
Na realidade, arquitectura, arte e cidade complementam-se e a arquitectura e a arte devem estar tão incorporadas como está por exemplo o mobiliário urbano na cidade. Mas, não devem ser entendidas como algo acidental ou orgânico, no caso da arquitectura; ou como algo adicional e complementar no caso da arte. Mas enquanto símbolos, signos, conceptualizações estéticas e ideológicas de uma cultura que está presente na percepção de toda a cidade enquanto comunidade de experienciação histórica (Trías, 1983).   

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