A cidade do Porto estrutura a sua malha urbana em torno de um antigo e medieval burgo comercial, situado numa das suas colinas sobranceiras ao rio Douro.A cidade vai lenta e progressivamente organizando intra-muros a sua vida social, politica, económica e religiosa. Ainda hoje, é possível ver um breve e pequeno registo das suas muralhas, um dos símbolos mais poderosos da cidade medieval, mas nada restou das suas imponentes portas e postigos. A cidade estava assim bem delimitada por um dentro e um fora, uma linha fisica e simbólica que integrava ou segregava espaços, vidas e contextos. Era uma espécie de fronteira entre a cidade e o campo, entre o mundo celestial e o mundo profano. Hoje, já não existe esta fronteira fisica entre o dentro e o fora, mas ela existe na forma mais subtil e metafórica. A cidade do Porto cresceu na forma e na extensão, perdeu centralidade e dispersou-se por entre campos e bosques.O seu território expandiu-se e chegou até outros contextos urbanos, congregou dentro si diferenças e singularidades, identidades e culturas. A que vulgarmente chamamos de Grande Porto.
A cidade manteve contudo as suas características únicas, quer pela individualidade da sua morfologia e geologia, quer também pela sua singularidade da sua imagem de cidade e burgo medieval altaneiro a um rio a que chamam de Douro.
Mas são os bairros e as ilhas que mais caracterizam a cidade do Porto, com os seus espaços, as suas cenografias pitorescas, as suas festividades, os seus ritos e simbolos. Definem a sua história e os seus percursos evolutivos. A partir daqui configura-se a cidade, o espaço e a sua espacialidade urbana.Vão-nos informando sobre o que é o espaço público, o espaço privado e também o que é o habitar.
Mas estas formas de ocupação urbana, tão distintivas e singulares da cidade do Porto estão a perder-se. A Câmara Municipal do Porto não lhe atribui valor e interesse patrimonial, continua a olhar para estes tipologias com os olhares higienistas do século XIX e XX. A partir desta perspectiva a Câmara Municipal do Porto tem desenvolvido um programa agressivo e anti-social de erradicação das Ilhas e dos antigos bairros da cidade, deslocando pessoas, destruindo espaços sociais, mutilando identidades e vizinhanças. Esvaziando a cidade de pessoas, de ritos e culturas urbans. É toda uma mundividência que se aniquila sem precedentes na cidade invicta. Um atentado às classes pobres e vulneráveis da cidade, mas também contra aqueles que fizeram os seus trajectos de vida e por opção escolheram continuar a viver e a habitar na sua ilha como gostam de frisar independentemente da sua condição social actual.
É no interior destas Ilhas da cidade (umas públicas e outras privadas), uma espécie de bairros populares com origens no século XIX e inicios do XX que encontramos os melhores modelos do que é habitar e do que é a vivência de um espaço público complexo e interactivo.
A Ilha do Bairro Herculano localiza-se na rua Alexandre Herculano e rua das Fontainhas, em terrenos das antigas Quintas de S. Lázaro e dos Matadouros, numa zona marcada por referências urbanas muito fortes e típicas da cidade canónica, como por exemplo a Avenida Rodrigues de Freitas, Rua do Sol e Praça da Batalha, o Largo de S. Lazaro.
Trata-se de uma zona residencial privilegiada, pois possui uma boa orientação solar e uma boa localização no centro da cidade do Porto. As habitações existentes pertenciam a uma burguesia endinheirada, que foi construir nos finais do século XIX os seus palacetes e casarões. Era uma zona propensa a ser um centro de finanças e de negócios, onde aliás já se tinham instalado algumas fábricas. Uma zona com terrenos disponíveis e acessíveis.
Estas razões é que determinam a localização da ILHA - Bairro do Herculano, bem como determinam a sua configuração e a sua tipologia. O bairro está escondido por de traz dos logradouros de todas aquelas casas que formavam o quarteirão. Os limites do bairro são logradouros, paredes traseiras de habitações, paredes traseiras de edificios de escritórios, terrenos abandonados e fábricas. Mas apesar destes entraves à boa vivência, os moradores gostam de la viverem e de certa forma sentem-se protegidos da cidade, isto é, da confusão daquele local, agora transformado em zona de união Porto-Gaia.
O Bairro/Ilha possui uma planta em malha ortogonal reticulada, tendo uma rua maior, a rua principal que faz a junção da parte central do bairro e a sua organização. Desfruta de duas entradas, uma para cada uma das ruas (Herculano e Fontainhas).Tem ainda uma rua de escape diagonal à semelhança de cidades como Espinho.
As casinhas estão organizadas consoante os arruamentos, formando fileiras de casas de um ou dois andares. Todas elas estão habitadas à excepção de duas, uma está abandonada e a outra está à venda. As casas de banho são colectivas, pois as habitações aquando da sua construção não foram pensadas a ter quarto de banho, apesar de agora assistirmos a uma requalificação e a mudanças de organização das habitações no âmbito de garantir melhores condições de habitabilidade (higiene e conforto).
A ILHA do Bairro Herculano é diferente de todos os outros espaços aos quais chamamos de bairro. Tem vida própria, funciona como uma Ilha. Tem condições de higiene e de conforto. Possui boas relações sociais, uma vizinhança activa e dinâmica culturalmente.
Quando questionados, os moradores dizem estar satisfeitos com a vizinhança, com a água e com a cidade.Apenas não gostam do valor da renda, que por mais estranho que pareça é de apenas três euros mensais.
Este bairro organiza-se dentro de uma espécie de muro ou muralha que o individualiza do mundo exterior,isto é, da malha da cidade. Um microcosmos dentro de um universo urbano mais complexo e denso, com os seus limites e fronteiras. Aqui o olhar centra-se no dentro e fora da Ilha. Estamos perante um ritual simbólico de passagem, de mediação entre o mundo interior e o mundo exterior.O Bairro Herculano está fechado sobre si mesmo, logo torna-se um espaço de fechamento e identidade positiva face ao mundo exterior. Mas, quando se entra no Bairro, reparamos que aquelas ruelas de um metro e meio de largura são espaços abertos ("públicos") onde todos podem andar e desfrutar. Os moradores do bairro / ilha não fazem comentários acerca da "gente nova" que por aí circula. Este fenómeno evita a guetização destes moradores, e integra-os de pleno direito na cidade, na sua cidade. Não sofrem das consequências da deslocalização urbana e da fragmentação.
Mas sentimos, estar a entrar dentro de casa de alguém que está a ver a novela da hora de almoço. As portas estão abertas, os vasos de flores estão cá fora, os gatos andam à solta. Aquele bairro é como se fosse uma só casa, uma "Casa Grande" para centenas de pessoas, desde crianças a velhos. A isto deve-se o facto de lá viverem familias inteiras, desde os avós aos netos. Os moradores nascem, crescem e desejam morrer no seu bairro, na sua ilha; conhecem-se e confiam umas nas outras, uma espécie de topofilia ao lugar de residência. Afirmam de forma segura e agressiva «...daqui só para o cemitério...».
Mas dentro de um espaço tão pequeno encontramos ainda microespaços, como são os casos de largos, partes de ruas, pedaços de jardim.
Dentro destes espaços realçamos o único largo pertencente ao bairro. Situa-se no final da quinta rua, isto é, perpendicular à rua principal. É um espaço exíguo, com cerca de oito metros quadrados. Está limitado por um alçado principal de uma habitação, por um alçado traseiro de outra e pela rua e uma parede de uma fábrica. Fica no canto do bairro. Os seus acessos são «duvidosos», pois existe a rua que ao fazer a aproximação com o bairro torna-se estreita. Existe ainda outro acesso também ele rudimentar feito entre umas casas de banho antigas, já abandonadas e o alçado lateral de habitação que está virada de traseiras.
O largo não é muito frequentado, apenas serve de alpendre à habitação que se apropriou dele. As antigas casas de banho são agora uma espécie arrumos de tralhas, aí também foi acrescentada uma soleira onde estão colocados vasos de plantas e é utilizada como banco para se sentarem nas tardes e noites de calor.
Apesar de ser minúsculo o largo assume o seu mix durante os festejos de São João na Ilha bairro Herculano. Serve assim de local de encontro da família, dos amigos e vizinhos onde se faz uma sardinhada, uma espécie de mesa colectiva, onde a partilha e a amizade se configuram neste topos festivo (Dies Festa). Em dias de São João o cheiro a sardinha percorre todas aquelas esquininhas, todas as casas com a sua mesa e o seu assador, os jovens jogam às cartas no meio da rua principal, as ruas todas enfeitadas com fitas e balões, e a musica do bairro. Aqui sim, a festa e a alegria transbordam de casa em casa, de morador em morador, de pessoa para pessoa. Os putos correm pelas ruas interiores, jogam às caçadinhas e gritam e gritam uns pelos outros, todos se conhecem e todos se chamam pelo seu nome. A cascata de S.João a competição entre as Ilhas pela decoração mais «linda da nossa rua. Aqui não há registos de anónimo, de estranho, de inseguro, todo um mundo social afectivo e seguro de trocas sociais. A pobreza, porque ela também mora aqui, não os impede de viver, de conviver uns com os outros. Dizem-nos, com um brilho nos olhos de um orgulho demasiadamente humano que nos toca fundo «...Nós Aqui!..Somos uma família!».
A cidade manteve contudo as suas características únicas, quer pela individualidade da sua morfologia e geologia, quer também pela sua singularidade da sua imagem de cidade e burgo medieval altaneiro a um rio a que chamam de Douro.
Mas são os bairros e as ilhas que mais caracterizam a cidade do Porto, com os seus espaços, as suas cenografias pitorescas, as suas festividades, os seus ritos e simbolos. Definem a sua história e os seus percursos evolutivos. A partir daqui configura-se a cidade, o espaço e a sua espacialidade urbana.Vão-nos informando sobre o que é o espaço público, o espaço privado e também o que é o habitar.
Mas estas formas de ocupação urbana, tão distintivas e singulares da cidade do Porto estão a perder-se. A Câmara Municipal do Porto não lhe atribui valor e interesse patrimonial, continua a olhar para estes tipologias com os olhares higienistas do século XIX e XX. A partir desta perspectiva a Câmara Municipal do Porto tem desenvolvido um programa agressivo e anti-social de erradicação das Ilhas e dos antigos bairros da cidade, deslocando pessoas, destruindo espaços sociais, mutilando identidades e vizinhanças. Esvaziando a cidade de pessoas, de ritos e culturas urbans. É toda uma mundividência que se aniquila sem precedentes na cidade invicta. Um atentado às classes pobres e vulneráveis da cidade, mas também contra aqueles que fizeram os seus trajectos de vida e por opção escolheram continuar a viver e a habitar na sua ilha como gostam de frisar independentemente da sua condição social actual.
É no interior destas Ilhas da cidade (umas públicas e outras privadas), uma espécie de bairros populares com origens no século XIX e inicios do XX que encontramos os melhores modelos do que é habitar e do que é a vivência de um espaço público complexo e interactivo.
A Ilha do Bairro Herculano localiza-se na rua Alexandre Herculano e rua das Fontainhas, em terrenos das antigas Quintas de S. Lázaro e dos Matadouros, numa zona marcada por referências urbanas muito fortes e típicas da cidade canónica, como por exemplo a Avenida Rodrigues de Freitas, Rua do Sol e Praça da Batalha, o Largo de S. Lazaro.
Trata-se de uma zona residencial privilegiada, pois possui uma boa orientação solar e uma boa localização no centro da cidade do Porto. As habitações existentes pertenciam a uma burguesia endinheirada, que foi construir nos finais do século XIX os seus palacetes e casarões. Era uma zona propensa a ser um centro de finanças e de negócios, onde aliás já se tinham instalado algumas fábricas. Uma zona com terrenos disponíveis e acessíveis.
Estas razões é que determinam a localização da ILHA - Bairro do Herculano, bem como determinam a sua configuração e a sua tipologia. O bairro está escondido por de traz dos logradouros de todas aquelas casas que formavam o quarteirão. Os limites do bairro são logradouros, paredes traseiras de habitações, paredes traseiras de edificios de escritórios, terrenos abandonados e fábricas. Mas apesar destes entraves à boa vivência, os moradores gostam de la viverem e de certa forma sentem-se protegidos da cidade, isto é, da confusão daquele local, agora transformado em zona de união Porto-Gaia.
O Bairro/Ilha possui uma planta em malha ortogonal reticulada, tendo uma rua maior, a rua principal que faz a junção da parte central do bairro e a sua organização. Desfruta de duas entradas, uma para cada uma das ruas (Herculano e Fontainhas).Tem ainda uma rua de escape diagonal à semelhança de cidades como Espinho.
As casinhas estão organizadas consoante os arruamentos, formando fileiras de casas de um ou dois andares. Todas elas estão habitadas à excepção de duas, uma está abandonada e a outra está à venda. As casas de banho são colectivas, pois as habitações aquando da sua construção não foram pensadas a ter quarto de banho, apesar de agora assistirmos a uma requalificação e a mudanças de organização das habitações no âmbito de garantir melhores condições de habitabilidade (higiene e conforto).
A ILHA do Bairro Herculano é diferente de todos os outros espaços aos quais chamamos de bairro. Tem vida própria, funciona como uma Ilha. Tem condições de higiene e de conforto. Possui boas relações sociais, uma vizinhança activa e dinâmica culturalmente.
Quando questionados, os moradores dizem estar satisfeitos com a vizinhança, com a água e com a cidade.Apenas não gostam do valor da renda, que por mais estranho que pareça é de apenas três euros mensais.
Este bairro organiza-se dentro de uma espécie de muro ou muralha que o individualiza do mundo exterior,isto é, da malha da cidade. Um microcosmos dentro de um universo urbano mais complexo e denso, com os seus limites e fronteiras. Aqui o olhar centra-se no dentro e fora da Ilha. Estamos perante um ritual simbólico de passagem, de mediação entre o mundo interior e o mundo exterior.O Bairro Herculano está fechado sobre si mesmo, logo torna-se um espaço de fechamento e identidade positiva face ao mundo exterior. Mas, quando se entra no Bairro, reparamos que aquelas ruelas de um metro e meio de largura são espaços abertos ("públicos") onde todos podem andar e desfrutar. Os moradores do bairro / ilha não fazem comentários acerca da "gente nova" que por aí circula. Este fenómeno evita a guetização destes moradores, e integra-os de pleno direito na cidade, na sua cidade. Não sofrem das consequências da deslocalização urbana e da fragmentação.
Mas sentimos, estar a entrar dentro de casa de alguém que está a ver a novela da hora de almoço. As portas estão abertas, os vasos de flores estão cá fora, os gatos andam à solta. Aquele bairro é como se fosse uma só casa, uma "Casa Grande" para centenas de pessoas, desde crianças a velhos. A isto deve-se o facto de lá viverem familias inteiras, desde os avós aos netos. Os moradores nascem, crescem e desejam morrer no seu bairro, na sua ilha; conhecem-se e confiam umas nas outras, uma espécie de topofilia ao lugar de residência. Afirmam de forma segura e agressiva «...daqui só para o cemitério...».
Mas dentro de um espaço tão pequeno encontramos ainda microespaços, como são os casos de largos, partes de ruas, pedaços de jardim.
Dentro destes espaços realçamos o único largo pertencente ao bairro. Situa-se no final da quinta rua, isto é, perpendicular à rua principal. É um espaço exíguo, com cerca de oito metros quadrados. Está limitado por um alçado principal de uma habitação, por um alçado traseiro de outra e pela rua e uma parede de uma fábrica. Fica no canto do bairro. Os seus acessos são «duvidosos», pois existe a rua que ao fazer a aproximação com o bairro torna-se estreita. Existe ainda outro acesso também ele rudimentar feito entre umas casas de banho antigas, já abandonadas e o alçado lateral de habitação que está virada de traseiras.
O largo não é muito frequentado, apenas serve de alpendre à habitação que se apropriou dele. As antigas casas de banho são agora uma espécie arrumos de tralhas, aí também foi acrescentada uma soleira onde estão colocados vasos de plantas e é utilizada como banco para se sentarem nas tardes e noites de calor.
Apesar de ser minúsculo o largo assume o seu mix durante os festejos de São João na Ilha bairro Herculano. Serve assim de local de encontro da família, dos amigos e vizinhos onde se faz uma sardinhada, uma espécie de mesa colectiva, onde a partilha e a amizade se configuram neste topos festivo (Dies Festa). Em dias de São João o cheiro a sardinha percorre todas aquelas esquininhas, todas as casas com a sua mesa e o seu assador, os jovens jogam às cartas no meio da rua principal, as ruas todas enfeitadas com fitas e balões, e a musica do bairro. Aqui sim, a festa e a alegria transbordam de casa em casa, de morador em morador, de pessoa para pessoa. Os putos correm pelas ruas interiores, jogam às caçadinhas e gritam e gritam uns pelos outros, todos se conhecem e todos se chamam pelo seu nome. A cascata de S.João a competição entre as Ilhas pela decoração mais «linda da nossa rua. Aqui não há registos de anónimo, de estranho, de inseguro, todo um mundo social afectivo e seguro de trocas sociais. A pobreza, porque ela também mora aqui, não os impede de viver, de conviver uns com os outros. Dizem-nos, com um brilho nos olhos de um orgulho demasiadamente humano que nos toca fundo «...Nós Aqui!..Somos uma família!».
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