segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

ESPAÇO LOCAL E ESTRUTURA URBANA EM AROUCA - um modelo (In)sustentavel

1.
Pensar de forma sustentada o ordenamento territorial e urbanístico da vila e concelho de Arouca não é tarefa fácil nem imediata. Estamos perante uma realidade espacial de grande complexidade ambiental, social e cultural, que se traduz numa diversificada idiossincrasia da sua estrutura ecológica. A realidade arouquense apresenta desta forma não uma, mas várias centralidades históricas com identidades urbanas singulares, que se podem fundamentar na pequena história local das antigas vilas e concelhos medievais como Alvarenga, Burgo e Cabeçais/Fermedo.
Esta matriz política vai sem duvida potenciar um ordenamento territorial e uma organização urbana diferenciadora e potenciadora  de novas sinergias sociais, económicas, culturais e ambientais. Reforçando desta forma a identidade e a integração dos seus actores sociais no contexto das instituições locais.
2.
O ordenamento do território concelhio de Arouca apresenta desta forma essencialmente três áreas de forte identidade territorial, a zona oeste com destaque para a antiga vila de Alvarenga (na bacia do Paiva); a zona central do vale de Arouca (na bacia do rio Arda) com a vila de Arouca e a zona a nascente do concelho com os núcleos urbanos de Escariz / Fermedo, o fundo do concelho ( na bacia do rio Inha).
Estas três realidades topológicas constituem entre si, uma rede de interdependências económicas, sociais e administrativas potenciadoras de uma mais ou menos frágil relação de interesses politicos configuradores de estratégias que visam o desenvolvimento e a qualidade de vida destes pequenos núcleos satélites há vila de Arouca.
Estas zonas caracterizam-se também por um crescimento urbano diferenciado, fragmentado, desordenado e fortemente especulativo. Traduzindo-se num "crescimento" urbano espontâneo, incontrolado assente em principios de baixa densidade. Assiste-se, a um empobrecimento da qualidade ambiental, arquitectónica e urbanística destes núcleos emergentes, expressa na pobreza do desenho e respectiva composição arquitectónica, na qualidade dos materiais de construção, bem como na ausência da integração do edificado no contexto paisagístico.
3.
Estas realidades topológicas que constituêm a marca e a malha urbana do território arouquense evidenciam entre si diferenças expressivas no que concerne hà configuração e organização do edificado recente. O concelho de Arouca apresenta um urbanismo ad continuum, ao longo da principal via que liga o fundo do concelho (Escariz/Fermedo) à vila de Arouca. Este crescimento da malha urbana acompanha de forma sistemáticamente as infra-estruturas rodoviárias e respectivos equipamentos (água, luz, telefones, transportes e comércio), não obedecem a um plano prévio mas são produto de uma construção espontânea, bem como ao apareciemento de loteamentos nas margens desta via estruturante a EN 326. Aliás, como refere o Relatório Final do Plano Estratégico do Concelho de Arouca, que «o prolongamento da sede de concelho tem acontecido pela EN 326 na direcção poente, pelas freguesias de Burgo, Rossas e Sta Eulália», e em relação à sua qualidade urbanística conclui que «estas constituem um conjunto desqualificado urbanísticamente, em que a inexistência de instrumentos de planeamento tem produzido consequências negativas», afirmando mesmo que aqui «não existe qualquer preocupaçao de criar urbanidade» (1995: fol.31).
Esta expansão da malha urbana obedece a situações de auto-construção, de loteamentos que vão aparecendo ao longo desta via estruturante, sem qualquer tipo de desenho e imagem urbana, mas são situações que respondem única e simplesmente a um pequeno mercado local fortemente especulativo. Desta situação, resulta que a imagem urbana da vila e do seu respectivo aro, transformou-se de forma acentuada, perdendo centralidade e radialidade urbana em beneficio de uma imagem tipo corredor que penetra pelo vale, uma espécie de corredor de betão que desliza ao longo deste vale do Arda.  Este fenómeno de construção ad continuum empobrece a identidade urbana e a qualidade dos núcleos pré-existentes, acentuando a fragmentação urbana e a insustentabilidade ambiental e rural do outrora fértil e verdejante vale do Arda.
Estes núcleos periféricos ao centro urbano de Arouca (Arouca, Burgo, Sto António, Casinha, Várzea e Rossas) densificam-se em edificado e população, ao longo destes corredor estreito e desqualificado, agravando desta forma o trânsito nas EE. NN. 224 e 326, já de si muito congestionado.
As estradas nacionais passam a ser autênticas ruas, com casas de ambos os lados, sem passeios, sem separadores de trânsito, sem sinalização adequada, sem conforto e segurança, estes espaços são residuais e o produto de uma especulação local e do desleixo autárquico. Contribuindo para a degradação da qualidade de vida e também da qualidade ambiental e urbana. Não se reforçou a malha urbana, não se valorizou as centralidades e as identidades espaciais consolidadas. Um dos exemplos mais choccantes é o abandono do núcleo da antiga rua do Burgo.
Fragmentamos, degradamos, dispersamos o edificado por entre os campos, os bosques, as linhas de água, e por último fomos construir em cima da Reserva Agrícola Nacional  - RAN, (ver foto em cima com construções em cima de solo agrícola classe A ).
4.
As outras duas realidades topológicas Alvarenga e o Fundo do Concelho no zona ocidental do concelho de Arouca, apresentam características morfológicas especificas e diferenciadoras em termos de estrutura ecológica e urbana. Para tal tem contribuído a sua localização geográfica e respectivo contexto social e económico. Uma encravada no vale do Paiva, mais rural e serrana e a outra situada numa zona de forte implantação industrial nas próximidades com os concelhos de Vale de Cambra, S.João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Vila da Feira - de onde destacamos o Europarque e o Parque de Ciência e Tecnologia e diversas iniciativas empresariais que constituem um potencial para a dinamização turística e empresarial do  concelho de Arouca
Alvarenga encontra-se situada entre as serras da Arada (S. Pedro do Sul) e do Montemuro (Castro Daire) e do complexo da Gralheira-Freita, espaços de montanha que conferem a esta zona uma identidade geológica e uma paisagem específica onde predomina a raça arouquesa. Alvarenga está inserida também num triângulo rodoviário, configurado em função das vilas de Cinfães, de Nespereira, Castro Daire através da EN 225, e um pouco afastada pela cidade de Lamego na região do Douro. A vila de Alvarenga tem um casco antigo de grande qualidade arquitectónica e urbana, com uma imagem urbana qualificada, com obras recentes que contribuíram para melhorar o seu casco no centro de Trancoso. Trata-se de um pequeno casco urbano, composto por uma pequena praça ou largo, onde a simplicidade e a harmonia do seu Pelourinho lhe conferem uma qualidade ambiental e uma qualidade cénica de rara beleza. Este espaço urbano, agrega pessoas, lugares, casas, símbolos, culturas, imaginários e potencia aspirações futuras.Um centro cívico por excelência que alberga as suas elites politicas, culturais e económicas em tempos de férias, de festividades, ou mesmo durante os fins de semana.
5.
No fundo do concelho, mais propriamente Escariz e Cabeçais (Fermedo) a organização territorial é dispersa, fragmentada. A população concentra-se em pequenos núcleos rurais, com dinâmicas populacionais regressivas. Os dois e mais importantes núcleos urbanos são Escariz e Cabeçais, distantes um do outro, com perda acentuada de centralidade. Os investimentos públicos nestas freguesias fizeram-se de forma assimétrica ao antigo centro ou casco antigo. Não se valorizaram as centralidades existentes, o que prova como a especulação imobiliária e a valorização de solos florestais e agrícolas pesam na hora de decidir como e onde planear.
Este modelo de organização territorial em baixa densidade e disperso atrofia a qualidade urbanística do edificado, coloca em causa a sustentabilidade ecológica e urbanos dos espaços locais. Degrada a qualidade de vida das pessoas aí residentes, favorece o aparecimento de bolsas de pobreza e de exclusão social dispersas pelo território.



1 comentário:

  1. Lembras-te de mim? Estivemos no bar Baixa a beber um copo juntamente com a Helena e o Javier.

    Aqui vai outra perspectiva de Arouca
    http://eminstantes.blogspot.com/2009/04/arouca.html

    Memória/identidade é o mote

    Adelaide
    Beijinhos

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