sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Exposição - Cidade da Participação em Évora!


A exposição CIDADE DA PARTICIPAÇÃO, centrada na reabilitação da Ilha da Bela Vista na cidade do Porto pretende dar a conhecer o processo que esteve na implementação do Programa da Habitação Básica Participada por parte do Laboratório de Habitação Básica/Imago/CICS.Nova_Pólo UMinho, numa parceria com a Associação de Moradores da Ilha da Bela Vista e Câmara Municipal do Porto proprietária da ilha.

A implementação deste programa teve como objectivo potenciar as vantagens da complexidade da ilha da Bela Vista, inscritas na sua morfologia, na sua escala, na sua tipologia e na sua integração no lote de rua. A partir daqui, foi possível envolver e organizar a comunidade na procura de uma solução participada e interactiva com a equipa do Laboratório e poderes políticos. Instalamos o Laboratório numa das casas da Ilha que servia de sede da Associação de Moradores, que durante dois anos consecutivos trabalhou em sintonia plena com a Associação e com os moradores da Bela Vista. Desde cedo o espaço foi ganhando a sua centralidade, como lugar de trabalho e de convívio entre a equipa técnico-científica do Lahb/Imago/CICS.Nova_UM (arquitectos, antropólogos, sociólogos e assistentes sociais) e a comunidade que participava nas discussões e nos trabalhos que se foram desenvolvendo de acordo com as fases do projecto.

As reuniões de trabalho eram participadas e alongavam-se pelas manhãs e tarde e noites dentro. Ninguém tinha pressa em chegar a uma conclusão sem que estivesse garantida a exaustão da participação. Os desenhos, as maquetas de estudo, o riscar num quadro de ardósia eram instrumentos essenciais na procura e na definição de um programa que se adapta-se às formas e modos de vida daquela comunidade. Esclarecendo duvidas, projectando conceitos e construindo soluções com cada um dos seus habitantes, sempre em função das suas necessidades e da disponibilidade do orçamento.

A partir deste processo de arquitectura básica participativa construímos um programa e um conceito de habitar que se vai adaptar de forma inteligente ao programa da pré-existência, de forma a valorizar as noções espaciais de densidade, de ritmo, de composição das suas colunas bem como a composição social e a identidade cultural dos usos dos espaços exteriores e interiores.
A compreensão da relação das células com o espaço exterior, com as outras células, com o seu próprio espaço interno e respectiva organização de espaço doméstico, tornaram possível a construção de uma cartografia antropológica do habitar nesta ilha. Num segundo tempo, colocou-se o problema de como transportar e incorporar este conhecimento sócio-antropológico para o âmbito da definição de um programa de habitação básica participada.

Aqui, coloca-se a definição de um conceito e de um programa básico que incorpore de forma harmoniosa e equilibrada as aspirações de uma comunidade que “sonha com uma casa nova”! Este conceito recupera o conceito de habitar como espaço da intimidade e da domesticidade, privilegiando a idiossincrasia de cada família numa relação directa com a rua, com o pático, com a praça. Na construção de uma identidade expressiva de casa com porta para a rua, na possibilidade de a casa se prolongar do espaço interior para o espaço exterior da rua, sem constrangimentos e sem conflitualidades no seu estar consigo e com os outros.  A incorporação do tanque, do banco e da entrada de porta recuada, permite a construção de espaços de grande complexidade que nos ligam o espaço de dentro a um espaço de fora.
Um programa que se quer capaz de valorizar as experiências individuais (de cada família e de cada individuo no seio do grupo familiar) bem como a valorização das relações colectivas dentro da comunidade no uso dos espaços comunitários (hortas comunitárias, jardins, praças, ruas, equipamentos colectivos).

Neste programa a parte económica não sendo determinante é contudo condicionante e (in)formativa. Estamos perante um programa de casas básicas com custos muito reduzidos, mas que se querem muito eficientes em conforto, segurança e durabilidade. A poética arquitectónica também lá está incorporada na fachada pintada de branco, nas persianas exteriores afastadas da parede, na escada autónoma da parede possibilitando outra ambiência e outra interacção entres os espaços de cima e os espaços de baixo, entre os diversos compartimentos, no escritório ao cimo das escadas, no pequeno pátio que permite trazer a luz para todos os compartimentos e a ventilação, resolvendo desta forma as velhas patologias construtivas das ilhas (humidades e infiltração de águas pelos telhados e paredes da estrutura, falta de luz e de ventilação, ausência de banhos e de cozinhas).

A proposta de programa de habitação básica participada para a reabilitação da Ilha da Bela Vista vai deste modo incorporar estes princípios e conceitos no programa e projecto de arquitectura da autoria do Arquitecto António Cerejeira Fontes e na coordenação de programa e de modelos participativos do Antropólogo Fernando Matos Rodrigues e do sociólogo Manuel Carlos Silva (ambos directores do Lahb).






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