A exposição CIDADE DA
PARTICIPAÇÃO, centrada na reabilitação da Ilha da Bela Vista na cidade do Porto
pretende dar a conhecer o processo que esteve na implementação do Programa da
Habitação Básica Participada por parte do Laboratório de Habitação
Básica/Imago/CICS.Nova_Pólo UMinho, numa parceria com a Associação de Moradores
da Ilha da Bela Vista e Câmara Municipal do Porto proprietária da ilha.
A implementação deste programa
teve como objectivo potenciar as vantagens da complexidade da ilha da Bela
Vista, inscritas na sua morfologia, na sua escala, na sua tipologia e na sua
integração no lote de rua. A partir daqui, foi possível envolver e organizar a
comunidade na procura de uma solução participada e interactiva com a equipa do
Laboratório e poderes políticos. Instalamos o Laboratório numa das casas da
Ilha que servia de sede da Associação de Moradores, que durante dois anos
consecutivos trabalhou em sintonia plena com a Associação e com os moradores da
Bela Vista. Desde cedo o espaço foi ganhando a sua centralidade, como lugar de
trabalho e de convívio entre a equipa técnico-científica do
Lahb/Imago/CICS.Nova_UM (arquitectos, antropólogos, sociólogos e assistentes
sociais) e a comunidade que participava nas discussões e nos trabalhos que se
foram desenvolvendo de acordo com as fases do projecto.
As reuniões de trabalho eram
participadas e alongavam-se pelas manhãs e tarde e noites dentro. Ninguém tinha
pressa em chegar a uma conclusão sem que estivesse garantida a exaustão da
participação. Os desenhos, as maquetas de estudo, o riscar num quadro de
ardósia eram instrumentos essenciais na procura e na definição de um programa
que se adapta-se às formas e modos de vida daquela comunidade. Esclarecendo
duvidas, projectando conceitos e construindo soluções com cada um dos seus
habitantes, sempre em função das suas necessidades e da disponibilidade do
orçamento.
A partir deste processo de
arquitectura básica participativa construímos um programa e um conceito de
habitar que se vai adaptar de forma inteligente ao programa da pré-existência,
de forma a valorizar as noções espaciais de densidade, de ritmo, de composição
das suas colunas bem como a composição social e a identidade cultural dos usos
dos espaços exteriores e interiores.
Aqui, coloca-se a definição de um
conceito e de um programa básico que incorpore de forma harmoniosa e
equilibrada as aspirações de uma comunidade que “sonha com uma casa nova”! Este
conceito recupera o conceito de habitar como espaço da intimidade e da
domesticidade, privilegiando a idiossincrasia de cada família numa relação directa
com a rua, com o pático, com a praça. Na construção de uma identidade
expressiva de casa com porta para a rua, na possibilidade de a casa se
prolongar do espaço interior para o espaço exterior da rua, sem
constrangimentos e sem conflitualidades no seu estar consigo e com os
outros. A incorporação do tanque, do
banco e da entrada de porta recuada, permite a construção de espaços de grande
complexidade que nos ligam o espaço de dentro a um espaço de fora.
Um programa que se quer capaz de
valorizar as experiências individuais (de cada família e de cada individuo no
seio do grupo familiar) bem como a valorização das relações colectivas dentro
da comunidade no uso dos espaços comunitários (hortas comunitárias, jardins,
praças, ruas, equipamentos colectivos).
Neste programa a parte económica
não sendo determinante é contudo condicionante e (in)formativa. Estamos perante
um programa de casas básicas com custos muito reduzidos, mas que se querem
muito eficientes em conforto, segurança e durabilidade. A poética
arquitectónica também lá está incorporada na fachada pintada de branco, nas
persianas exteriores afastadas da parede, na escada autónoma da parede
possibilitando outra ambiência e outra interacção entres os espaços de cima e
os espaços de baixo, entre os diversos compartimentos, no escritório ao cimo
das escadas, no pequeno pátio que permite trazer a luz para todos os
compartimentos e a ventilação, resolvendo desta forma as velhas patologias
construtivas das ilhas (humidades e infiltração de águas pelos telhados e
paredes da estrutura, falta de luz e de ventilação, ausência de banhos e de
cozinhas).
A proposta de programa de
habitação básica participada para a reabilitação da Ilha da Bela Vista vai
deste modo incorporar estes princípios e conceitos no programa e projecto de
arquitectura da autoria do Arquitecto António Cerejeira Fontes e na coordenação
de programa e de modelos participativos do Antropólogo Fernando Matos Rodrigues
e do sociólogo Manuel Carlos Silva (ambos directores do Lahb).
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