ESCOLA SUPERIOR ARTÍSTICA DO PORTO
Mestrado Integrado em Arquitectura
Antropologia do Espaço
2013/2014
1.º Semestre do 2-º
ano do MIA
Docente Fernando
Matos Rodrigues
PROGRAMA
O. Introdução
A proposta de programa para a
cadeira de Antropologia do Espaço para o 2.º ano do Mestrado Integrado em
Arquitectura na Escola Superior Artística do Porto, centra-se na problemática
do estudo das complexidades em torno do espaço, do lugar, do território, da
habitação e dos problemas da inclusão e exclusão social.
Com este programa pretende-se
dotar um aluno de arquitectura de ferramentas e instrumentos que lhe
possibilitem compreender os processos da transformação e de resistência na cidade
em torno dos seus lugares, dos seus bairros, das suas ilhas, do seu habitar.
Na primeira parte do programa o
aluno terá acesso a um conjunto de métodos qualitativos e de teorias próprias
da Antropologia e da Sociologia urbanas, com enfoque específico sobre os temas
das ilhas e dos bairros populares da cidade. Dando especial relevo à utilização
de instrumentos socio-antropológicos, nomeadamente as entrevistas
semi-estruturadas e informais, cruzando a análise etnográfica de casos concretos
com o modelo interpretativo e explicativo próprio do método Weberiano da
compreensão. Pretende-se colocar o aluno perante a importância destas
metodologias e técnicas de ordem quantitativa e sobretudo qualitativa de modo a
possibilitar uma abordagem ao tema prático desta cadeira – a habitação nas
ilhas da cidade do Porto.
Embora como professor e cidadão
tenha partilhado, ao longo destes últimos anos, algumas experiências nestes
bairros e ilhas da nossa cidade, acompanhando as trajectórias dos residentes e
respectivas associações de moradores, discutindo alternativas e modelos para a
sua renovação arquitectónica e valorização enquanto tipologia tipicamente
urbana. A partir destas aproximações foi possível sistematizar um programa que
nos permita dar a compreender a habitação e a cidade, os modos de habitar e a
sua espacialização, as suas relações
sociais e jogos identitários.
01. A Antropologia no contexto das Ciências Sociais
1.1.Antropologia do Espaço versus
Antropologia Urbana
1.2.Teorias, conceitos e métodos
1.3.Temas, objectos e cenários da
antropologia urbana
02. Antropologia do Espaço
2.1.Conceitos de espaço
2.2.Conceitos de território e de
lugar
2.3.O lugar e o território –
espaços da reprodução social
2.4.Espaços da inclusão versus
espaços da exclusão
2.5.O espaço social pós-moderno:
Harvey e Jameson
03. Antropologia do Espaço Doméstico
3.1.Conceito de espaço doméstico
versus espaço publico
3.2.Casa, família e comunidade:
espaços de dormir, espaços de comer, espaços de receber e de partilhar, espaços
de trabalhar, espaços da reprodução, espaços de socialização, espaços de
violência
3.3.Dimensões socioculturais do
espaço doméstico
3.4.Alojamento: a habitação como território
pessoal
3.5.A Ilha: uma espécie de
território primário
3.6. Espaço na sua relação
comportamental e funcional
3.7.Espaço arquitectónico:
programa, funções e linguagens do habitar
04.Antropologia da Cidade
4.1.heterópolis: a experiência da
complexidade
4.2.A cidade e o urbano: da
Disneyobsenity versus Strada Novissima
4.3.Texturas urbanas: fora do
lugar, fora de si
4.4. A cidade simulacro: da
Postsuburbia à independência periférica
4.5.Da cidade concebida à cidade praticada:
espaço púbico e domínio publico
4.6.A Rua: passar, pensar e falar
05.Antropologia da habitação
5.1.Conceito de habitar
5.2.Para uma antropologia do
habitar
5.3.Etnografia da casa, da ilha e
do bairro
5.4.A dimensão antropológica do
alojamento
5.5.O direito à residência: resistência à deslocação dos moradores
5.6.Significado cultural e
ideológico da habitação
5.7.Problemática dos movimentos sociais em defesa da habitação: "o Bull-dozer não passará"
5.8.Um programa de habitação: objectivos, principios e compromissos5.9.O problema da habitação: habitação para todos um direito humano e universal
5.10. Paradigmas para a cooperação e para o desenvolvimento em matéria de habitação
5.11.Políticas de habitação e propostas de habitação básica para o séc. XXI
0.6. Trabalho Estudo Prático - ILHAS PROJECT
- Estudar casos de resistência à deslocação dos residentes (ilhas e bairros cidade Porto)
- Estudar casos de resistência à deslocação dos residentes (ilhas e bairros cidade Porto)
Os alunos realizam este trabalho prático integrados, no ILHAS
PROJECT, em contexto de case study estudando uma das Ilhas propostas no
âmbito destes estudo. Vamos este ano estudar um novo contexto do habitar em
torno das Ilhas localizadas nas freguesias de Massarelos, Cedofeita e Ramalde.
A investigação centra-se numa análise das formas de habitar e respetivas
tipologias morfológicas das Ilha s e bairros populares do Porto. Este estudo
pretende estudar estas células do habitar, num contexto de grande complexidade
social, económica e política em torno da habitação. Para tal vamos elaborar uma
gramática hermenêutica que nos possibilite a sua compreensão e o seu estudo, de
forma a evitar as construções ideológicas e estereotipadas que sempre
classificaram estes bairros como lugares de exclusão e de estigmatismo social e
cultural. Estas ilhas e bairros apresentam um tipo de organização especifica,
que foi conservado e valorizado no seu interior, longe dos olhares de uma
burguesia que os estigmatizou privando-os do seu silêncio e da sua privacidade.
O nosso objetivo é compreender as formas de organização social e material
destas comunidades, bem como retirar daí valores e conhecimentos sobre o
habitar em condições mínimas. É fundamental o estudo das práticas e
representações dos moradores das ilhas e dos bairros populares da cidade do
Porto, pelo facto de nos possibilitar a construção de mapas intensivos sobre as
estruturas familiares e a sua interação com o habitar em tipologia Ilha ou
Bairro. Bem como compreender os seus trajetos sociais em torno de uma espécie
de genealogia do habitar. Trata-se de um conjunto diversificado de bairros e
ilhas, com uma localização privilegiada na cidade canónica do Porto. Integradas
em contexto urbano, com forte ligação com a rua, com a praça, com o comércio,
com a vida em cidade. Há quem defenda o valor intersticial da ilha como uma das
suas marcas físicas de urbanidade, sem duvida que também o é, mas não só.
A
Ilha enquanto elemento intersticial é -, ilha entre ruas, entre prédios, entre
quarteirões, um espaço de dentro e fora. A partir daqui seria necessário
compreender também os mecanismos de pertença e de filiação a uma identidade urbana
participativa e inclusiva já longe dos olhares higienistas que a estigmatizaram
e a condenaram a uma história de grande desclassificação social. Ainda hoje, é
normal ouvir da boca dos seus moradores, «bibo
na ilha, mas somos boas pessoas. Aqui, mora gente boa. Somos todos uma
família!».
6.1.Objectivos e estrutura do
trabalho
6.1.1.Introdução ao projecto
6.1.2.Identificação e localização dos territórios da intervenção: lugar
e contextos
6.1.3.Elementos para o Estudo das Ilhas:
6.1.3.1.Elaboração de um Mapa do território
a) localização e
descrição histórica e geográficas do lugar
b) história da
comunidade- ilha
c) tipos de
habitação, distribuição e implantação no
sitio
d)identificar as
infraestruturas
e) outros aspectos
relevantes: hortas, pomares, jardins, etc.
Nota 1: A descrição inicial pode ser auxiliada por
registos fotográficos, vídeos, desenhos de estudo, gravação de conversas
informais, uso de mapas e maquetes de estudo.
6.1.4.Identificar e caracterizar a estrutura demográfica:
6.1.4.1.Número de habitantes e a sua distribuição por idade, género e
grupos familiares
6.1.4.2.Relacionar o n-º de indivíduos por habitação e grau de
parentesco
6.1.4.3.Identificar a estrutura profissional e a formação
6.1.4.4.A relação entre luar de residência e lugar de trabalho
6.1.5.Caracterização da
situação socioeconómica
6.1.5.1.Identificar as actividades da comunidade e os recursos locais
6.1.5.2.Identificar as categorias profissionais e as ocupações
6.1.5.3.Os salários ou apoios sociais
6.1.5.4.Identificar a organização familiar e respectivas redes de
solidariedade
6.1.5.5.Identificar e caracterizar a existência de associações de
moradores, grupos culturais, políticos, religiosos, desportivos, entre outros
6.1.5.6.O nível de escolaridade e alfabetização
6.1.6.Características
sócio-culturais
6.1.6.1.Relato do universo cultural ( por exe: pode ser a descrição de
uma casa com a sua família e o seu contexto), podem ser usadas fotografias,
relatos prévios, documentários em vídeo, desenhos de estudo, entre outros.
6.1.6.2.Relações de gênero em torno dos registos de apropriação nas
janelas, nas portas e espaços de dentro e de fora
6.1.6.3.Práticas e representações do feminino no espaço ilha: a horta, o
tanque, o quintal, o estendal
6.1.6.4.A Casa da Ilha: a concha protectora da mulher casada; lugar de
trabalho doméstico e de refúgio
6.1.6.5.Educação, participação e mudanças culturais (migração, a
animação e as festas populares da cidade; S. João o potlach das ilhas da
cidade do Porto
Nota
2: A
partir deste esqueleto programático os alunos elaboram um Relatório Final, que
será apresentado e avaliado pelo docente da cadeira. Um Case Study concreto de
uma “Ilha” que deve obedecer as estas linhas programáticas. Levando o aluno a
uma reflexão e problematização sobre as realidades antropológicas do habitar
nas casas das ilhas da cidade do Porto. Pode-se fotografar, gravar, filmar,
pesquisar, criar. Com estas aproximações propõe-se a realização de uma maquete
do território ilha de forma a compreender as relações e as complexidades do
habitar. A maquete deve promover uma construção de saberes e olhares diferentes
para a habitação e, nessa construção procuramos uma compreensão mais complexa
da realidade, permitindo vários enfoques de aproximação de olhares e respectivo
distanciamento reflexivo na tradição do interacionismo simbólico do «face
to face» (Goffman, 1990).
Nota
3:
A partir daqui vamos passar para a Elaboração
do Projecto de Programação/Acção para Intervenção nas Ilhas da cidade do Porto.
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7.3.Bibliografia obrigatória
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CUNHA, Aline Cristhiane Teles da (2012)"Da minha ilha não se vê o mar". As Ilhas do Porto: património, práticas e representações. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Dissertação de Tese de Mestrado, 106 folios.
GESTO, Belém; PEREA. Luís (coord.) (2012) Evaluando la Habitabilidad Básica. Una propuesta para projectos de cooperación. Nadrid, Los Libros de la Catarata.
VELHO, Gilberto; KUSCHNIR, Karina (Orgs.) (2003) Pesquisas Urbanas. Desafios do trabalho antropológico. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor
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RODRIGUES, Fernando Matos (2011) “As Ilhas do Porto. Para uma antropologia do habitar” in TRIPEIRO (Rui MOREIRA, director), 7ª Série, Ano XXX, n.º11. Porto, Edição da Associação Comercial do Porto, pp.326-327.
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RODRIGUES, Fernando Matos (2011) Antropologia do Espaço Doméstico. Um estudo de caso. Porto, Edições Afrontamento.
SILVA. Manuel Carlos (2009) Classes sociais: condição objectiva, identidade e acção colectiva. Ribeirão, Edições Húmus.
SEIXAS, Paulo Castro (2008) ENTRE MANCHESTER E LOS ANGELES. Ilhas e novos Condomínios no Porto. Porto, Edições Universidade Fernando Pessoa.
TEIXEIRA, Manuel C. (1996) HABITAÇÃO POPULAR NA CIDADE OITOCENTISTA. AS ILHAS DO PORTO. Lisboa, Edição Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Cientifica e Tecnológica.
7.4. Fontes Manuscritas, Plantas e audiovisuais
Arquivo Municipal do Porto . Casa do Infante
Biblioteca Publica e Municipal do Porto
Arquivo Distrital do Porto
Arquivo da Cooperativa de Habitação - O Problema da Habitação
Arquivo das Associações de Moradores
Arquivo do Jornal de Noticias e do Jornal O Público
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