Por Fernando Matos Rodrigues[1]
Fábio
Rodrigues Azevedo[2]
Esta intervenção pretende
trazer para o debate os problemas da habitação e do direito à habitação e à
cidade, em torno da habitação social e popular na cidade do Porto.
Ao longo destas últimas
décadas temos acompanhado e estudado este fenómeno no âmbito da cadeira de
antropologia do espaço no Curso do Mestrado Integrado em Arquitectura da Escola
Superior Artística do Porto (ESAP). Desde hà vários anos que tem sido nosso
propósito estudar a habitação popular na cidade do Porto, em torno das “Ilhas”
e dos pequenos bairros.
Elaborando relatórios a partir de uma pesquisa intensiva com base nas técnicas e métodos de estudo antropológicos, como é o caso do trabalho de campo com observação participante.
Elaborando relatórios a partir de uma pesquisa intensiva com base nas técnicas e métodos de estudo antropológicos, como é o caso do trabalho de campo com observação participante.
A partir daqui, foi-nos
possível compreender os fenómenos e os processos de resistência dos moradores
das “Ilhas” e dos “Bairros Populares” da cidade, perante os processos de
intimidação que se foram aplicando. Estes processos de intimidação foram sendo
estruturados de várias formas e feitios. Umas vezes de forma dissimulada, com a
definição de planos e de intervenções urbanísticas que levaram a uma
consequente especulação do solo urbano e a um aumento de pressão sobre os
antigos moradores.
Destacamos os planos de recuperação de algumas destas zonas antigas da cidade com a introdução de novos equipamentos e infraestruturas.Um dos últimos programas "Operação De Reabilitação Urbana Das Fontainhas" (2001), associado ao Programa Especial de Realojamento (PER). Estamos perante intervenções que têm como principal objectivo reocupar os bairros com outras funções e outros clientes. Os governos da cidade são aqui pouco claros, mas os seus técnicos e as suas instituições são claras e objectivas no que se refere à necessidade de intervir nestes cascos, mas omissas e silenciosas sobre os destinos das populações aí residentes. São os exemplos dos Bairros / Ilhas da Capela, Olimpia e Maria Victorina, num total de 164 casas e com 148 habitantes. A deslocalização e realojamento destes moradores para os bairros do Cerco, Aleixo, Lagarteiro, Falcão, etc.
Destacamos os planos de recuperação de algumas destas zonas antigas da cidade com a introdução de novos equipamentos e infraestruturas.Um dos últimos programas "Operação De Reabilitação Urbana Das Fontainhas" (2001), associado ao Programa Especial de Realojamento (PER). Estamos perante intervenções que têm como principal objectivo reocupar os bairros com outras funções e outros clientes. Os governos da cidade são aqui pouco claros, mas os seus técnicos e as suas instituições são claras e objectivas no que se refere à necessidade de intervir nestes cascos, mas omissas e silenciosas sobre os destinos das populações aí residentes. São os exemplos dos Bairros / Ilhas da Capela, Olimpia e Maria Victorina, num total de 164 casas e com 148 habitantes. A deslocalização e realojamento destes moradores para os bairros do Cerco, Aleixo, Lagarteiro, Falcão, etc.
Assim, quando alguém decide
mudar a forma e a vida de um bairro, a primeira medida a tomar é declarar como
obsoleta e anacrónica a tipologia, lançar um olhar “sanitário e higienista”
sobre as formas de organização social. Aparece o estigma, a exclusão e a
deslocação.
Fernando Távora, em Relatório (1968) sobre a complexidade do Realojamento e Deslocalização dos antigos moradores, considera que «temporário ou definitivo, no local ou fora dele, o realojamento cria em geral complexos problemas nos homens que dele são vitimas. Cortes nas relações e de laços sociais e humanos, manifestações de segregação, problemas profissionais ou de transporte. Tudo são factores de traumatismo que a mudança de habitação pode provocar»; mais afirma que «resolver o problema da casa não é tudo, por vezes, não é mesmo resolver um dos problemas mais graves, mas apenas significa criar outros problemas, como a deslocalização e desalojação».
Depois, elabora-se um Plano
“perfeito” de linhas rectas e curvas, desenhos “bonitos”, maquetas em 3D,
encomenda-se um “Relatório” sobre as questões sociais e culturais a um qualquer
gabinete de uma Universidade da cidade que fundamentará a intervenção em nome
de uma existência melhor.
De seguida, vai-se propor
ofertas de realojamento, que prejudicam sempre aqueles que não podem assumir as
novas condições que indirectamente se lhes acaba de propor com a nova
intervenção.
Simulam-se práticas de
participação para dividir os vizinhos afectados com a nova intervenção. No
fundo, vamos submeter os moradores destes bairros a uma grande pressão que os
obrigue a abandonar a sua residência (a sua casa, como gostam de lhe chamar). Deixando,
o espaço livre aos planos de refuncionalização dos seus bairros. No Porto fomos
assistindo à construção de um espaço estilizado, elitizado e especulativo na
parte antiga da cidade.
Invocando as palavras
mágicas da “reabilitação”, da “regeneração” e da “renovação” as entidades
locais de mãos dadas com os promotores imobiliários transformam estas “ilhas” e
estes “bairros populares” em zonas residenciais para as classes médias e altas.
Deslocando os antigos moradores para outras soluções de habitar que em nada
dignificam a sua vida e a sua forma de cultura urbana. São populações inteiras
que se deslocam, se dispersam, por entre as torres e os blocos sociais da
periferia. Destruimos laços de vizinhança, fragmentamos a vida social,
separamos famílias inteiras, interrompemos histórias de vida comuns.
É todo um drama social que se abate sobre a cidade.
É todo um drama social que se abate sobre a cidade.
Os poucos bairros que
resistem vivem numa absoluta agonia, perante um destino incerto e quase sempre
condenado à destruição. Numa cidade em que o maior problema ainda,e digo ainda,
é o da habitação. Será que faz sentido deitar casas abaixo, destruir bairros
inteiros, deslocar os seus moradores. Criar um problema social em vez de
resolver aqueles que nos afectam.
Mas, que soluções?
Propomos uma valorização do
habitar nas “ilhas e bairros populares da cidade”. Qualificando estruturas e
equipamentos que se encontram em estado de ruína e de abandono sistemático de
anos e anos de indiferença por parte dos organismos estatais.
Uma intervenção participada
entre moradores, associações de moradores, juntas de freguesia, e poderes
locais e centrais, de forma a dotar estes pequenos bairros das condições para
um habitar inclusivo e amigo da pessoa, da família e da sociedade.
Em Portugal, foram várias as
formas de intervenção na área da habitação social. O Estado Novo com o programa
das Casas Económicas (1933), os Privados, e as Instituições Sociais e Matriz
Religiosa. Depois, com o 25 de Abril assistimos ao processo SAAL que introduziu
a auto-construição em processos participativos. Os Blocos e as Torres. As
Cooperativas. Por ultimo, os imobiliários especulativos.
[1]
Antropólogo do Espaço. Professor no Mestrado Integrado em Arquitectura ESAP.
Mestre em Antropologia pela Univ. do Minho; Curso de Doutoramento em Teoria da
Arquitectura e Projecto Arquitectónico
pela ESTA da Univ. de Valladolid; Doutorando em Antropologia e Sociologia no
ICS da Universidade de Braga, com a investigação sobre “Habitação Para Todos.
Processos de Resistência no Direito à Habitação e Cidadania Activa”. Coordena a
implementação do Laboratório Habitar e Sociedade XXI.
[2]
Arquitecto. Mestre em Arquitectura pela Escola Superior Artística do Porto com
a tese sobre “As Ilhas do Porto. Proposta de Habitação Básica em Processos de
Auto-Construção”; Faz parte do Grupo de Estudos sobre as Ilhas do Porto
integrado no Laboratório Habitar e Sociedade XXI, em implementação.
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